Vi
um gato solitário
Espreitando por uma janela entreaberta
Olhos castanhos escuros, vivos, atrevidos
Lembrei-me dos teus castanhos não leais
O malandro do gato mal me apanhou
distraída
Entrou pela janela e correu para a cozinha
Até parecia já conhecer a casa
O pior, o pior para mim, foi o meu almoço
O peixinho fresquinho pronto a grelhar
Foi ao estomago do gato maroto, parar
Ele assustado, enrouscou.se a um canto
Parecia um menino a tremer, cheio de medo
Devagarinho, aproximei-me, encolheu-se
Decerto pensou que lhe ia bater
Falei-lhe de mansinho, ele ronronou
E atá parecia querer beijar-me de gratidão
Eu fiz lhe uma festinha de mansinho
O pelo era tão liso, macio e tão quentinho
Encostei a minha face à dele
Pareceu que me queria beijar para agradecer
Tão belo manjar.
Hesitei entre o mandar embora
Ou deixar a janela aberta e dar-lha a
escolha
Adormeci a sonhar com aqueles olhos
castanhos
Meiguinhos e carinhosos
Acordei e de imediato fui à cozinha
A janela continuava aberta
Mas do gatinho nada vi
Deixou vazio meu coração
A solidão voltou àquele rés do chão
Maria Antonieta B. A. Oliveira
24-07-2024
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