quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Dia de Inverno




Num dia de inverno
em que se alongam os passos
nas sombras das nuvens
negras e tenebrosas
ameaçando a chuva do além

Nesse dia,
em que o sol se escondeu
ofuscando o brilho
deste cais onde me perco
e,
em que o mar engrossou
pelas lágrimas caídas do céu
e tudo enegreceu.

Nesse dia,
em que as flores se esconderam
sob o arbusto do jardim
e as conchas
permaneceram no areal solitário.

Nesse dia,
caminhei ao longo da praia
perdida na falésia
onde um dia renasci.


Maria Antonieta Oliveira

Quero Estar Sozinha





Quero estar sozinha,
comigo,
como se tu estivesses aqui.

Quero rir e chorar à vontade
Contar-me os segredos
Gritá-los bem alto,
Entendê-los.

Quero cantar e brincar
mesmo sabendo
que não sei cantar
e, que nunca soube brincar.

Quero meditar lembranças.
Quero renovar esperanças.
Quero sonhar acordada.
Quero sentir-me amada.

Quero bailar
ao som duma valsa
Deixar-me levar
Sentir-me criança.

Quero gritar
ao sol, à lua e ao vento
Deixar voar o meu pensamento.

Quero estar sozinha,
comigo!


Maria Antonieta Oliveira

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Velhice





Eu, que até pensava…
Ah, se eu pensava!
Que a velhice nunca chegava!

Mas, chegou
e com ela tudo mudou.

Verdade!

Já não tenho agilidade,
mas tenho a tua amizade,
e a tua, e outras mais.

Já não tenho tais fantasias,
mas escrevo mais poesias,
E te encontrei, e a ti também.

Já me canso ao caminhar,
mas continuo a passear
contigo, sempre contigo.

Já me dói aqui e ali,
este osso e mais aquele,
mas ainda não perdi
o meu jeito de ser
de amar e sofrer,
de sorrir e chorar,
de gostar de poesia,
de agradecer a cada dia,
de amor e liberdade,
e ansiar a felicidade.

E eu, que até pensava
que a velhice nunca chegava!


Maria Antonieta Oliveira

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sinto-te



Sinto o teu corpo desnudo
em mim
Tento encontrar a malícia,
o desejo lânguido do prazer
de te ter
de te possuir
Sendo amada
beijada e acariciada
Pelas tuas mãos hábeis e,
ávidas de nós.

Sinto!
Sonho!
O amor!


Maria Antonieta Oliveira


Voa-me o Pensamento





Voa-me o pensamento
Na imagem perdida de ti.

Sulco montanhas
Cavo espaços
Perco-me nos teus braços.

Caminho nas nuvens
Em busca da paz esquecida
No vento que sopra baixinho.


Reclino o olhar
No adormecer do sol
Que se esvai no infinito.

Deleito meu corpo
No areal imenso
Do mundo em que habito.

Deixo-me levar
No tempo que passa impune
À vida que quero e espero.

Voa-me o pensamento!


Maria Antonieta Oliveira

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Apenas Eu





Pedi às nuvens, que me levassem
Disseram: Não!
Nossas lágrimas cairão
E à terra voltarás.

Roguei ao sol, que me desse guarida
Disse-me: Não!
Não suportarás o calor
Preferirás essa vida.

Supliquei às estrelas, que me dessem luz
Disseram-me: Não!
Todo o teu ser
Por si só já reluz.

Olhei bem o céu
E, olhei para mim
O que quero eu?
Não estou bem assim?

Porque teimo em ir
Se meu lugar é aqui
Não vou mais partir
Ficarei por aqui.

Esperarei a hora
Que me está destinada
Então, ir-me-ei embora
Desta vida destroçada.

Nem sol
Nem nuvens
Nem estrelas
Apenas eu,
Sozinha além!


Maria Antonieta Oliveira

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ti Joanico





Já não és o Joanico
do carrinho de mão
ou da carroça do macho

Nem aquele
que o mano Manel seguia
e com ele trabalhava

Muito menos
o de calção de banho
chinelo no pé
e toalha ao ombro
que os sobrinhos acompanhava

Não!
Já não és o Joanico!

Teu ser desmoronou
Teu cabelo branqueou
Teu olhar entristeceu
Teus dentes partiram de vez

E um dia,
Acordarás num adormecer eterno
Deixarás para sempre este caminho
que te traiu em pequenino
e fez de ti, sempre menino.

Mas,
Já não és o Joanico!
Não!


Maria Antonieta Oliveira





segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Voar No Tempo





Ah
Como eu queria!

Esvaziar os cofres do meu sentir
Libertar os pensamentos nefastos
Deixar de caminhar de rastos…

Como eu queria!

Queria
Soltar gemidos e ais
Gritar alto meus tormentos
Deixá-los partir no vento
Soltar todas as amarras
Aguçar as minhas garras
E voar… voar no tempo.

Ah!
Como eu queria!


Maria Antonieta Oliveira

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cantata




Gargarejo o alfabeto
retido no palato do sentir.

Solta-se o Verbo!

Jorram as silabas
desconexadas e sem sentido.

Saem golfejos de palavras
ritmadas,
ao som de uma cantata.

O Verbo é matéria!

As palavras, são poesia!


Maria Antonieta Oliveira


Morte





Tenho um trapo enrolado
no cabide do tempo…

Esqueleto carcomido
olhando o chão que já não pisa
Braços descaídos
nas unhas pontiagudas
Pés descalços
nos passos já gastos
Coluna erguida direita
nas vertebras já quebradas.

Caminhas
Te inclinas
Para a cova aberta para ti

Entre flores viçosas,
mortas como tu.
No sol
Na chuva
No vento
Ficarás!

Como um trapo enrolado
no cabide do tempo!


Maria Antonieta Oliveira