quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O Outro Lado


Passeio do lado errado da tela da vida
O espelho que me conduzia, partiu-se
Fiquei no obscuro sentir de ser
A luz trémula da vela, apagou-se
No instante em que passaste por mim
Algo de errado acontecia
Algo de errado fizéramos
A tela quebrou o giz com que escrevia
As cores misturaram-se no pincel
Qual cena proibida
Assim ficou nossa vida

Do outro lado
Do lado de lá da tela
Ficaste tu
Aquele que um dia, foi meu.

Maria Antonieta Oliveira
30-10-2019

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Sinto Sono


Sinto sono
Muito sono
Um sono angustiante
Que me consome e ofusca a mente
De repente, os olhos cansados
Semicerrados, adormecem
Um sono profundo
Bem fundo
Tão fundo, que não querem mais voltar
Acordar para quê?!
Deixa-te estar tranquila
Nesse sono, adormecida
Para quê voltar à vida
Se a vida já se perdeu
E no sono
No teu sono
Sonhas a felicidade
De uma vida de igualdade
Onde abunda o amor
Não acordes, por favor
Descansa o teu olhar
No cansaço que é viver.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

Sonhos Desfeitos


Sinto em mim um aperto
Neste peito já sofrido
De viver em sofrimento
Sonhando sem ter um leito
Onde repousar meu corpo
Sonhos desvanecidos
Por demais convencidos
De um dia diferente
Em que tu e toda a gente
Sorrissem de felicidade
Mas, é triste a realidade
Sem pão, habitação
Ou amor e aconchego
Sem um riso de criança
Sem paz em abundância
Jamais o sol brilhará
No teu ser entrará
Uma réstia de felicidade.
Sonhos desfeitos
Pela própria humanidade.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

Olho-te



Olho-te sem te ver
És semente do meu ser
Desconhecido este meu sentir
Que sinto amando
E amo sentindo
Ah como queria regressar
Ao tempo das flores renascidas
Dos campos verdejantes
E pastagens refrescantes
Dos caminhos percorridos
E dos sonhos convencidos
Voltar a sentir o aroma dos teus beijos
O calor dos teus desejos
O teu corpo humedecido no meu
Voltar sim
Voltar a ser criança
Noutro tempo de mudança
E olhar de novo
Esse olhar enternecido
Que me olhava amando
Que me amava olhando.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Era


Era, conjugação verbal, difícil
Nem sempre satisfaz
Era, passado, foi ontem
E o ontem, foi feliz?
E o ontem existiu?
Foi vivido, conseguido?

Era
Foi
Já não é
Terá sido?

Maria Antonieta Oliveira
21-10-2019

sábado, 19 de outubro de 2019

Já Esqueci


Já não me lembro dos teus gritos
Nem do tom da tua voz
Já esqueci a força da tua mão
Os teus medos de mim:
Que me perdesse
Que me perdessem
Que mal me fizessem
Era a tua única menina
A filha do teu amor
Já esqueci tanta coisa, mãe.

A saudade é muita
A cada dia é maior
Olho ao céu e vejo-te
Na sombra da nuvem
Ou na lonjura do sol
Lá, onde te encontrares
Sabes o que foste e és
O quanto te amo
A falta que me fazes
Mesmo que nada disséssemos.

Maria Antonieta Oliveira
19-10-2019

Vi-te





Nem chuva, nem vento
Frio ou tempestade
Nada me demoveu
Nada me perturbou
A vontade era muita
E fui
Vi-te, meu amor
Ora na baliza
Ora a médio esquerdo
Defendeste com bravura
Na tua ainda pequena estatura
Quase sem treinos
Só agora começaste
E já és um herói
Sim, para mim, sempre o serás
És o meu eterno menino
Tive-te de pequenino
Dei-te e dou-te o meu carinho
Amo-te, meu príncipe.

Maria Antonieta Oliveira
19-10-2019




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Valei-me















Faz anos, muitos anos
Mais de cinco décadas
Pedi-te ajuda, Mãe
Atendeste-me
Muitos anos depois
Voltei a pedir-te ajuda
E tu, Mãe
Atendeste-me
Hoje, volto a pedir-te
Ouve-me de novo
Que a minha Rosinha
Volte a ter vida
Mãe, ouve-me por favor.
Só tu, Mãe, me podes valer
E outro milagre
Fazer acontecer.

Sempre grata, Mãe!

Maria Antonieta Oliveira
17-10-2019






















quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A Luz do Caminho




Surgiu uma luz no fim do caminho

O escuro da noite
O sol do dia
Os corpos, aquecia
O gelo, o frio
O terror, o tremor
O menino, a menina
O idoso, a criança
O céu, a terra
O mar, o rio
Água, frio
O sol, a luz
O calor, o amor
A praia, o campo

O menino caindo
O idoso sorrindo
E a luz
A luz surgiu
No fim do caminho.

Maria Antonieta Oliveira
16-10-2019





terça-feira, 15 de outubro de 2019

Rainha da Podridão




Como esquecer um passado de podridão?!

Se um dia, todos falassem
Numa reunião de doidos
Em que se encontrassem
Aqueles com quem andaste
Que loucura seria
Quanta nojice contariam
Imundície em que viveste
E quantos, quantos seriam?
A sala bem atulhada
Novos, velhos, meia idade
Louros, morenos, gordos ou magros
Tudo te serviu
Com todos tu reinaste
Rainha da podridão!

Maria Antonieta Oliveira
15-10-2019

Naquela Noite





Naquela noite
As estrelas não se iluminaram
A lua escondeu-se por detrás da nuvem
A noite foi longa
A manhã tardava
E eu, não adormecia

Aquela noite
Teve muitas horas
Queria ir correndo à rua
Trazê-lo para comigo passar o dia
Talvez fosse o último
Só Deus o saberia

A noite estava fria
E ele coitado, sem agasalho
Batia o dente, estremecia
E sonhava com o amanhã
A mesa estaria recheada e ela
Viria busca-lo

Mas aquela noite
A noite daquele Natal
Foi para ele fatal
Enquanto Jesus, sem nada, nascia
Ele, naquela noite,
Sem nada, morria.

Maria Antonieta Oliveira
15-10-2019

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

As Portas Eram de Chita




As portas eram de chita
Floridas, lisas ou riscadas
Franzidas, por vezes garridas
Guarnecidas ou não
Mas todas sem excepção
Eram firmes e seguras
Ninguém por elas ousava
Entrar sem autorização
Fossem do quarto ou da cozinha
Pois quem salão já tinha
Outras portas as guardavam.

Eram de chita as portas
Respeitadas, nada ousadas
Recatavam os olhares
Por vezes, desejosos de entrar
Mas as portas, que eram de chita
Protegiam quem lá morava
Pois na casa só entrava
Quem fosse de confiança
Agora, as portas são outras
Meu Deus, quanta mudança
Na chita das minhas portas.

Maria Antonieta Oliveira--


domingo, 6 de outubro de 2019

Fui Timoneira





Fui timoneira
Timoneira do meu barco
Encalhado no cais da vida
Perdido no caminho da memória
Fui timoneira

Tentei salvar a vida
Da vida que outrora foi
Remei, remei, tentei
Vagueei sem rumo
Na crista das ondas rasantes
Imponentes e arrepiantes
Batalhei com o mar
Esse mar que assusta gigantes
Fui navegante
E
Naveguei.

Fui timoneira
E continuei perdida.

Falhei!

Maria Antonieta Oliveira
06-10-2019

sábado, 5 de outubro de 2019





Na minha Sé
A Sé da minha infância
Cujos sinos tocaram para mim
Na inocência de uma criança
Fui um dia crismada

Na minha Sé
Nos sinos que tocavam para mim
Noutros tempos, noutros sonhos
Na Sé da minha infância
Segui outros caminhos

E os sinos
Que tocavam para mim
Na Sé da minha infância
Tocam agora para ti
Que tens a minha inocência.

Na minha Sé
Os sinos deixaram de tocar.

Maria Antonieta Oliveira
05-10-2019

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A Esplanada





Na esplanada, sobre a mesa
Pousava a caneta de tinta permanente
Tinta azul, como o céu
Esquecida estarrecia
A tinta secou com o tempo
O tempo que tudo seca e destrói
O bloco de notas jazia
Sem linhas, sem palavras
Sem o azul da tinta e do céu
Tudo vazio, esquecido.

Na esplanada, sobre a mesa
Onde outrora bebíamos o nosso café
O tempo não parou, passou
A minha mão deslizou sobre a caneta
De tinta permanente, azul
Sem querer, deixei-a cair
O bloco seboso por escrever
Voou com o vento vadio
Desolada, parti sem olhar
Tudo ficou para trás.

O céu azul, da cor da tinta
Escureceu
Também o meu coração
Entristeceu.
A chuva caindo
Atropelou os meus pensamentos
Com a face molhada
Voltei à esplanada
Na esperança de encontrar a caneta
E voltar a escrever a nossa história.

Maria Antonieta Oliveira
03-10-2019


terça-feira, 1 de outubro de 2019

Ser Diferente




Ser diferente
É ser igual a toda a gente

É ter sonhos e sonhar
Querer viver e viver
Querer brincar e brincar
Querer estudar e estudar
Querer trabalhar e trabalhar
Querer namorar e namorar
Querer ser mãe e ser mãe
ou
Querer ser pai e ser pai
Querer ser e ser.

Ser diferente
Não é ser diferente
Porque ser diferente
É ser igual a toda a gente.

Maria Antonieta Oliveira
01-10-2019