terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Papel e Caneta


Uma caneta, um papel
Um raio de luz
Uma folha do caderno
Em confidente se torna
Nela deixo tudo e nada
Segredos disfarçados
Outros, mal contados
Versos, estrofes, palavras
Poemas, poesias, prosas
Desabafos, sonhos e raivas

A brancura fica manchada
Arabescos indefinidos
Indecifráveis conclusões
Só eu e tu os sabemos
Só eu e tu os descobrimos
E
O papel, a caneta, o caderno
Guardam para sempre
As palavras soltas de mim
Só minhas, só nossas.

Maria Antonieta Oliveira
31-12-2019

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2019


Que dizer de ti, 2019?
Graças à amizade realizei sonhos
Escrevi e escreveram
Li, corrigi e fiz acontecer
Ri, chorei, sofri
Magoaram-me
Talvez tenha magoado
Convidei
Convidaram-me
Entrei e saí
Amei e fui amada
Acordei e adormeci
Pensando em ti
Sonhos esfarrapados
Caminhos extraviados
Errei
Erraram
Sofri por ti e por ti também
Revoltei-me
Pedi perdão
Perdoei e perdoaram-me
Salvei sem salvar
Ajudei sem ajudar
Ajudaram-me
Perdi-te, partiste
E
Passaste.

Maria Antonieta Oliveira
30-12-2019


sábado, 28 de dezembro de 2019

Fujo




Fujo
Fujo devagar sem pressa
Não quero afugentar as gaivotas
Nem sequer quero pisar as ervas crescentes
Ou as algas pelo mar trazidas
Quero chegar antes do sol pôr
Quero ter a luz da paz no caminho
O escuro, é triste
É solidão
Ao chegar, quero abraçar a vida
Aquela que ficou para trás, já foi
Quero esta de agora com amor
Com luz e paz

Mas,
Eu fujo
Fujo do ontem sofrido
Para renascer no amanhã
Onde imperará a harmonia
E reinará a felicidade.

Maria Antonieta Oliveira
28-12-2019


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Ondas


Verde, branco, castanho
Castanho, branco, verde
Verde, branco, castanho
Castanho, branco, verde
Vai e volta inconstante
Mais uma…
Lá vem ela
Verde, branca, encaracolada
Enche, esvazia
E o meu olhar se delicia
Calma e tranquila
Ou, astuta e matreira
Borbulhas na espuma
Que te pica o sal

Castanho, branco
Branco, castanho
O verde, perde-se além
Fica lá longe, não vem
E eu na areia perdida
Anseio a tua chegada
Há muito esquecida.

Maria Antonieta Oliveira
26-12-2019

Ruas Salgadas


Passeio nas ruas salgadas
Pelo sal da vida
Subo e desço arribas
Pedras trazidas nas marés cheias
Soltas, caídas, erguidas
Espelhadas nas calmas areias
A brancura alva da espuma trazida
Fica retida qual renda de lençol de noiva
Num enxoval esquecido.

Perco-me na imagem
Ficará para sempre retida na mente
Onde te guardo
E me guardo
E
Sou feliz.

Maria Antonieta Oliveira
26-12-2019


Branca Espuma



Branca a espuma do cetim que nos envolve
Ondulas o teu corpo no meu
Sinto-te na sofreguidão de um abraço
Neste mar que me leva e abraça
E me devolve ao sonho de te ter
Lá, onde o mar acaba e o céu começa
Onde os castelos são ilhas
E as ilhas são paraísos
Onde as algas fazem os ninhos
E as gaivotas passeiam as crias
Lá, nesse horizonte longínquo
Talvez me encontre
E seja feliz.

Maria Antonieta Oliveira
26-12-2019

sábado, 21 de dezembro de 2019

Deambulei



Deambula, deambula
A folha do pensamento
Deambula fraca ou forte
Como deambula o vento

O vento que sopra e leva
As folhas caídas pelo chão
Leva-me também contigo
Ao encontro da paixão

Leva-me para que não fique só
Apaga em mim a tristeza
Pode ser que no caminho
Encontre alegria e nobreza.

Ao meu redor nada vejo
A solidão é minha companheira
Leva-me vento para longe
Na minha viagem derradeira.

Deambulando, deambulei
Caminhando, caminhei
Em sonhos, sonhados, cresci
No vento levada, vivi.

Maria Antonieta Oliveira
21-12-2019




sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O Nosso Primeiro Natal




Já não sei quando foi o nosso primeiro Natal
Talvez, no século passado
Tão passado que já me esqueci
Trocámos prendas?
Já não sei
Talvez tenhamos trocado juras de amor
Sonhos com futuro
Ou futuro sem sonhos
Tantos natais já passaram
Tantos sonhos que ficaram
Nos anos que passaram

Natais tristes foram muitos
Felizes, se calhar muitos também
Foram tantos, tantos natais
Muitos dias, muitos anos
Desgostos e desenganos
Tristezas e alegrias
Família e solidão
Natais sem comunhão
Consumismo, inquietação
E os natais foram passando

Décadas e décadas de natais
Sonhos e sonhos sem natais.

Maria Antonieta Oliveira
20-12-2019

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Tentei Fechar o Céu



Tentei fechar o céu
Pedir à nuvem negra e feia
Que me livrasse da dor
Não te quero perder, meu amor
Sei que sofres, sei que sentes
Sei que amas e não desistes
Sei que… já não sei

Tentei fechar o céu
Impedir que a chuva molhe
O coração de quem fica
Sofrido e angustiado
O coração de quem te ama

Tentei fechar o céu
Para que ninguém te leve
Pois, quando partires
É no céu que ficarás
Será lá o teu lugar.

Tentei fechar o céu
Mas, o céu não é meu
O céu, não me obedeceu.

Maria Antonieta Oliveira
19-12-2019

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Copo de Cristal


Parti o copo de cristal
Dos estilhaços fiz quimeras
Já no chão, de cócoras
Tentei apanhá-los, um a um
Meus dedos trilhei
Ensanguentei
E não consegui
Os pequenos estilhaços
De um fino cristal
Jamais os prendi
No meu tentar
Apenas consegui
O coração magoar

Aquele que foi
Um belo ornamento
Do louceiro antigo
Não passa agora
De vidro partido.

Tal como eu, agora
Já não sou, como outrora.

Maria Antonieta Oliveira
16-12-2019

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Outono da Vida

(Foto de um desafio do HP)

Calcando as folhas de um tempo vivido
Carrega no peito, saudades e sonhos
As lágrimas secas da fonte brilhante
Caem rolando pelas rugas da face crispada
Um verde ausente nas folhas caídas
De um outono percorrido
De risos e choros, degraus escalados

Um olhar perdido
Um homem esquecido
Um banco calado
Um sonho sentado

A vida fugindo, levada
Na água da fonte, regada
O vento soprando, salpicando
O coração batendo, suspirando
E a vida passando.

Maria Antonieta Oliveira
13-12-2019


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Cheguei Tarde


Cheguei tarde
Chego sempre tarde
Mas, nunca me atraso na hora da chegada
Se é às três, eu chego às duas
Mas, chego sempre tarde
Tarde demais
Hoje deveria ter sido ontem
E assim chegaria a tempo
Não foi
E eu cheguei tarde

Quando começo, já acabou
Quando entro, a sala esvaziou
Quando chego, já é tarde.
Chego sempre tarde.

Maria Antonieta Oliveira
25-11-2019

sábado, 23 de novembro de 2019

Como?


Dizem-me para sorrir
Para seguir sem olhar
Para ser feliz sem pensar
Dizem-me
Mas não me dizem como
Como sorrir
Como seguir
Como não olhar
Como ser feliz
Como não pensar
Como?
Como esquecer
Se hoje e ontem
Ontem e hoje
Foram iguais?

Não!
Não consigo!

Maria Antonieta Oliveira
23-11-2019

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Espinhos Que Matam


Colhi a mais linda rosa do meu jardim
Cuidei-a com amor e carinho
Reguei-a, tratei-a a cada dia que passava
Vi-a crescer, embelezar-se
Tornar-se enorme
Aos poucos, os espinhos também cresceram
Aos poucos, fui sentindo a picada
Sem beleza, sem pureza, com maldade
E a rosa mais linda do meu jardim
Crescida, airosa, embelezada
Deixou-me perdida e sem nada
Ali plantada
Continua regada com amor e afeição
Ali plantada
Esquecida que a vida sem carinho
Não tem razão de ser
Para a rosa
A mais linda do meu jardim
Morri,
Sem querer saber de mim.

Maria Antonieta Oliveira
11-11-2019

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Rio Mira


Nas águas cálidas do Mira
Vagueio o pensamento
A areia solta pelo vento
Acompanha o balouçar
Do barco onde navego
Rio abaixo…
Rio acima…

O castelo altaneiro convida-me
Fico, ou parto?
Ao longe o farol alumia
O remoinho do vento na praia
Levanta suspeitas
Toalhas espalhadas
Roupas distraídas
De banhistas altruístas
Num reboliço
Qual feitiço de feiticeira

Amainou o temporal
Rio abaixo…
Rio acima…
Vagueio o pensamento.

Maria Antonieta Oliveira
06-11-2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Onde Mora a Felicidade


Sei que a felicidade está ali
Ali mesmo ao virar da esquina
Eu sei, sei que está naquele lugar
Na casa onde morei
Ou na esquina onde te encontrei
Sei, sei aonde a encontrar
Tirando o gelo do caminho
As ervas daninhas
que ornamentam a calçada
Desviando o alcatrão derretido da estrada
E as bermas poluídas de inveja
A maldade disfarçada
E as beatas espalhadas pelo chão

Sei, sim eu sei
Que está mesmo ali
Onde mora a amizade
O amor e a bondade
Aí, mora também a felicidade.

Maria Antonieta Oliveira
04-11-2019

Quanta Mágoa

(Ao olhar uma foto de Alice Vieira)
No lançamento do meu mais recente livro "Os Sons do silêncio"

Quanta mágoa existe por detrás de um sorriso
Quantas lágrimas disfarçadas
Quantas bocas caladas
E olhares por transmitir

Ah…. Quanta mágoa!

Desilusões e rasteiras da vida
Mágoas sem tempo
Vidas desfeitas, por fazer
Silêncios por calar

Tanta mágoa
Em sorrisos escondidos.

Maria Antonieta Oliveira
04-11-2019

domingo, 3 de novembro de 2019

Chuva Caindo


A chuva continua a cair
Nos lençóis molhados
Da cama desfeita
Onde cruzámos amores
Derramamos sorrisos
Trocámos orgasmos
Fomos um só ser.

Lá fora, esperas por mim
Na alameda fronteira à praia
Onde a chuva calca a areia
Apagando os nossos passos
O rasto que deixámos
Nos encontros que tivemos
E nos beijos que não demos.

Os lençóis da nossa noite de amor
Estão guardados no sótão do meu ser
Molhados, suados, amados
Tal como nós nos amámos
E suámos nos orgasmos repetidos
Nos abraços envolventes
Quando eramos inocentes.

A chuva continua caindo.

Maria Antonieta Oliveira
03-11-2019



Aquele Chá


Abri a janela, naquele dia cinzento
O vento esvoaçava nas folhas caídas
Pétalas de rosas adormecidas
Era um dia triste de outono
O sol esgueirava-se na nuvem
O tempo esfriou na madrugada

O chá fervente, arrefeceu
No escaldar da chávena partida
Adocicado com o sal da vida
Derramado na terra batida
Sem odor ou sabor
Sofregamente absorvido por mim

Naquele dia
Naquela janela
Aquele chá
Morreu
Na solidão
De mim.

Maria Antonieta Oliveira
03-11-2019

Amar


Carrego em mim o peso dos livros
Onde li e aprendi o que é o amor
Mas, não senti essa aprendizagem
Porque o amor não se aprende
O amor sente-se dentro de nós
No coração, no peito, até num simples olhar
O amor nasce em mim, em ti, em nós
Em cada um de nós habitará
Nasce quando nascemos
Mas não morre quando morremos
O amor, esse amor será eterno
De nós ficará
De nós partirá

Ai que peso carrego
E não sei o que é amar.

Maria Antonieta Oliveira
03-11-2019

sábado, 2 de novembro de 2019

Nas Asas de Um Anjo


Nas asas de um anjo, encontrei o caminho
Amplo, entre veredas bairristas
Escadarias empedradas
Janelas envidraçadas
E paredes engalanadas
A luz brilhante, no brilho do sol
Iluminava o espaço dos passos a dar
À noite, a lua cheia brilhava
Entrando de mansinho nas trevas do caminho
Até o céu se deixou estrelar
Para naquela noite poder brilhar
Pousando, voando
Caindo, levantado
Vou caminhando
No caminho encontrado
Quando nas asas de um anjo voava.

Maria Antonieta Oliveira
02-11-2019

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O Outro Lado


Passeio do lado errado da tela da vida
O espelho que me conduzia, partiu-se
Fiquei no obscuro sentir de ser
A luz trémula da vela, apagou-se
No instante em que passaste por mim
Algo de errado acontecia
Algo de errado fizéramos
A tela quebrou o giz com que escrevia
As cores misturaram-se no pincel
Qual cena proibida
Assim ficou nossa vida

Do outro lado
Do lado de lá da tela
Ficaste tu
Aquele que um dia, foi meu.

Maria Antonieta Oliveira
30-10-2019

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Sinto Sono


Sinto sono
Muito sono
Um sono angustiante
Que me consome e ofusca a mente
De repente, os olhos cansados
Semicerrados, adormecem
Um sono profundo
Bem fundo
Tão fundo, que não querem mais voltar
Acordar para quê?!
Deixa-te estar tranquila
Nesse sono, adormecida
Para quê voltar à vida
Se a vida já se perdeu
E no sono
No teu sono
Sonhas a felicidade
De uma vida de igualdade
Onde abunda o amor
Não acordes, por favor
Descansa o teu olhar
No cansaço que é viver.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

Sonhos Desfeitos


Sinto em mim um aperto
Neste peito já sofrido
De viver em sofrimento
Sonhando sem ter um leito
Onde repousar meu corpo
Sonhos desvanecidos
Por demais convencidos
De um dia diferente
Em que tu e toda a gente
Sorrissem de felicidade
Mas, é triste a realidade
Sem pão, habitação
Ou amor e aconchego
Sem um riso de criança
Sem paz em abundância
Jamais o sol brilhará
No teu ser entrará
Uma réstia de felicidade.
Sonhos desfeitos
Pela própria humanidade.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

Olho-te



Olho-te sem te ver
És semente do meu ser
Desconhecido este meu sentir
Que sinto amando
E amo sentindo
Ah como queria regressar
Ao tempo das flores renascidas
Dos campos verdejantes
E pastagens refrescantes
Dos caminhos percorridos
E dos sonhos convencidos
Voltar a sentir o aroma dos teus beijos
O calor dos teus desejos
O teu corpo humedecido no meu
Voltar sim
Voltar a ser criança
Noutro tempo de mudança
E olhar de novo
Esse olhar enternecido
Que me olhava amando
Que me amava olhando.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2019

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Era


Era, conjugação verbal, difícil
Nem sempre satisfaz
Era, passado, foi ontem
E o ontem, foi feliz?
E o ontem existiu?
Foi vivido, conseguido?

Era
Foi
Já não é
Terá sido?

Maria Antonieta Oliveira
21-10-2019

sábado, 19 de outubro de 2019

Já Esqueci


Já não me lembro dos teus gritos
Nem do tom da tua voz
Já esqueci a força da tua mão
Os teus medos de mim:
Que me perdesse
Que me perdessem
Que mal me fizessem
Era a tua única menina
A filha do teu amor
Já esqueci tanta coisa, mãe.

A saudade é muita
A cada dia é maior
Olho ao céu e vejo-te
Na sombra da nuvem
Ou na lonjura do sol
Lá, onde te encontrares
Sabes o que foste e és
O quanto te amo
A falta que me fazes
Mesmo que nada disséssemos.

Maria Antonieta Oliveira
19-10-2019

Vi-te





Nem chuva, nem vento
Frio ou tempestade
Nada me demoveu
Nada me perturbou
A vontade era muita
E fui
Vi-te, meu amor
Ora na baliza
Ora a médio esquerdo
Defendeste com bravura
Na tua ainda pequena estatura
Quase sem treinos
Só agora começaste
E já és um herói
Sim, para mim, sempre o serás
És o meu eterno menino
Tive-te de pequenino
Dei-te e dou-te o meu carinho
Amo-te, meu príncipe.

Maria Antonieta Oliveira
19-10-2019




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Valei-me















Faz anos, muitos anos
Mais de cinco décadas
Pedi-te ajuda, Mãe
Atendeste-me
Muitos anos depois
Voltei a pedir-te ajuda
E tu, Mãe
Atendeste-me
Hoje, volto a pedir-te
Ouve-me de novo
Que a minha Rosinha
Volte a ter vida
Mãe, ouve-me por favor.
Só tu, Mãe, me podes valer
E outro milagre
Fazer acontecer.

Sempre grata, Mãe!

Maria Antonieta Oliveira
17-10-2019






















quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A Luz do Caminho




Surgiu uma luz no fim do caminho

O escuro da noite
O sol do dia
Os corpos, aquecia
O gelo, o frio
O terror, o tremor
O menino, a menina
O idoso, a criança
O céu, a terra
O mar, o rio
Água, frio
O sol, a luz
O calor, o amor
A praia, o campo

O menino caindo
O idoso sorrindo
E a luz
A luz surgiu
No fim do caminho.

Maria Antonieta Oliveira
16-10-2019





terça-feira, 15 de outubro de 2019

Rainha da Podridão




Como esquecer um passado de podridão?!

Se um dia, todos falassem
Numa reunião de doidos
Em que se encontrassem
Aqueles com quem andaste
Que loucura seria
Quanta nojice contariam
Imundície em que viveste
E quantos, quantos seriam?
A sala bem atulhada
Novos, velhos, meia idade
Louros, morenos, gordos ou magros
Tudo te serviu
Com todos tu reinaste
Rainha da podridão!

Maria Antonieta Oliveira
15-10-2019

Naquela Noite





Naquela noite
As estrelas não se iluminaram
A lua escondeu-se por detrás da nuvem
A noite foi longa
A manhã tardava
E eu, não adormecia

Aquela noite
Teve muitas horas
Queria ir correndo à rua
Trazê-lo para comigo passar o dia
Talvez fosse o último
Só Deus o saberia

A noite estava fria
E ele coitado, sem agasalho
Batia o dente, estremecia
E sonhava com o amanhã
A mesa estaria recheada e ela
Viria busca-lo

Mas aquela noite
A noite daquele Natal
Foi para ele fatal
Enquanto Jesus, sem nada, nascia
Ele, naquela noite,
Sem nada, morria.

Maria Antonieta Oliveira
15-10-2019

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

As Portas Eram de Chita




As portas eram de chita
Floridas, lisas ou riscadas
Franzidas, por vezes garridas
Guarnecidas ou não
Mas todas sem excepção
Eram firmes e seguras
Ninguém por elas ousava
Entrar sem autorização
Fossem do quarto ou da cozinha
Pois quem salão já tinha
Outras portas as guardavam.

Eram de chita as portas
Respeitadas, nada ousadas
Recatavam os olhares
Por vezes, desejosos de entrar
Mas as portas, que eram de chita
Protegiam quem lá morava
Pois na casa só entrava
Quem fosse de confiança
Agora, as portas são outras
Meu Deus, quanta mudança
Na chita das minhas portas.

Maria Antonieta Oliveira--


domingo, 6 de outubro de 2019

Fui Timoneira





Fui timoneira
Timoneira do meu barco
Encalhado no cais da vida
Perdido no caminho da memória
Fui timoneira

Tentei salvar a vida
Da vida que outrora foi
Remei, remei, tentei
Vagueei sem rumo
Na crista das ondas rasantes
Imponentes e arrepiantes
Batalhei com o mar
Esse mar que assusta gigantes
Fui navegante
E
Naveguei.

Fui timoneira
E continuei perdida.

Falhei!

Maria Antonieta Oliveira
06-10-2019

sábado, 5 de outubro de 2019





Na minha Sé
A Sé da minha infância
Cujos sinos tocaram para mim
Na inocência de uma criança
Fui um dia crismada

Na minha Sé
Nos sinos que tocavam para mim
Noutros tempos, noutros sonhos
Na Sé da minha infância
Segui outros caminhos

E os sinos
Que tocavam para mim
Na Sé da minha infância
Tocam agora para ti
Que tens a minha inocência.

Na minha Sé
Os sinos deixaram de tocar.

Maria Antonieta Oliveira
05-10-2019

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A Esplanada





Na esplanada, sobre a mesa
Pousava a caneta de tinta permanente
Tinta azul, como o céu
Esquecida estarrecia
A tinta secou com o tempo
O tempo que tudo seca e destrói
O bloco de notas jazia
Sem linhas, sem palavras
Sem o azul da tinta e do céu
Tudo vazio, esquecido.

Na esplanada, sobre a mesa
Onde outrora bebíamos o nosso café
O tempo não parou, passou
A minha mão deslizou sobre a caneta
De tinta permanente, azul
Sem querer, deixei-a cair
O bloco seboso por escrever
Voou com o vento vadio
Desolada, parti sem olhar
Tudo ficou para trás.

O céu azul, da cor da tinta
Escureceu
Também o meu coração
Entristeceu.
A chuva caindo
Atropelou os meus pensamentos
Com a face molhada
Voltei à esplanada
Na esperança de encontrar a caneta
E voltar a escrever a nossa história.

Maria Antonieta Oliveira
03-10-2019


terça-feira, 1 de outubro de 2019

Ser Diferente




Ser diferente
É ser igual a toda a gente

É ter sonhos e sonhar
Querer viver e viver
Querer brincar e brincar
Querer estudar e estudar
Querer trabalhar e trabalhar
Querer namorar e namorar
Querer ser mãe e ser mãe
ou
Querer ser pai e ser pai
Querer ser e ser.

Ser diferente
Não é ser diferente
Porque ser diferente
É ser igual a toda a gente.

Maria Antonieta Oliveira
01-10-2019


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Lembranças




Hoje senti saudades de nós
De ti, minha amiga de outros tempos
Em que as palavras nos uniam
E os sábados eram a nossa casa
De ti, meu amigo de outrora
Que sempre me chamaste de avozita
Que já partiste, mas ficaste
Nas belas palavras que em livros nos deixaste
Também de ti, meu amigo
Poeta de guerras e vitórias
E de muitas outras histórias
Que me deste a honra
De num teu livro entrar
Também tu, partiste ficando.

Senti saudades de nós
Dos nossos encontros amigáveis
Das palavras que trocávamos
Dos sonhos que sonhávamos
Até das nossas risadas sem jeito
Mas que vinham tão a preceito
Que até a vida também nos sorria.

Eram tardes de sábados
Muitas tardes de muitos sábados
Em que as palavras nos uniram
E a amizade fecundou
Uns partiram, outros ficaram
E eu, hoje, senti saudades de nós.

Maria Antonieta Oliveira
30-09-2019
No lançamento do livro de António MR Martins, recordámos poetas já falecidos, que tal como nós, eram presença assídua no auditório do Campo Grande em tertúlias, saraus ou lançamentos de livros.
Exemplo – Vitor Cintra, António Boavida Pinheiro, José Manuel Brazão



quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O Teu Espaço





Passei à tua rua
Procurei o teu lugar
O teu espaço
Tinha esquecido há muito
Onde moravas
Nem da porta me lembrava
Ou da janela onde me esperavas

Mas,
Procurei o teu espaço
No lugar onde te perdi
A janela entreaberta
Deixava ver o cadeirão onde nos amámos
O cortinado oscilava
Ao som do vento cantante
Meu corpo estremecia
No teu regaço de amante
Um corpo num só corpo
Ao redor nada existia
Apenas o marulhar do mar ao longe

A janela fechou-se
O lugar que era teu
No espaço daquela rua
Esqueci-o para sempre
Não voltei atrás no caminho
Segui outro rumo, outra vida
Mas jamais me esqueci de ti.

Maria Antonieta Oliveira
26-09-2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Quero Ver-te Feliz





Quero sair deste limbo que me consome
Quero olhar-te e sorrir feliz
Quero voltar a ver os teus olhos brilhando
Quero ver os teus cabelos aos caracóis
Quero, sim quero muito, minha querida
Voltar a ver-te com vida

De mão na minha mão segura
Quero dar-te a saúde que te foge
Dar-te os beijos que precisas
Num amor que tanto querias
E não tiveste… e sofreste
Mas a vida vai dar-te outra vida

Sim, Deus é teu amigo
Deus está e estará sempre contigo.

Maria Antonieta Oliveira
24-09-2019

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Rosinha




A morte espreita
A noite fenece
O dia esfria
Nada te aquece

Olho-te e não te vejo
Não, não és aquela linda flor
Que no mês de Maria nasceu
Não, não és a Rosa florida e airosa
Que me habituaste a ver
Onde estás, flor do meu jardim?
Porque queres partir?
Não deixes de existir, querida
Fica, fica connosco
Ainda temos muito para viver
Ainda temos muito para repartir
Falar, confidenciar e sorrir
.
Fica, fica mais um tempo
Aquele que não tivemos
Aquele que o tempo nos tirou
Mas que agora
Vamos ter esse tempo só para nós
Eu, tu e quem amamos
Todos juntos caminhamos
Até que o tempo nos leve
Muito longe será esse dia
Dia esse, maldito, que não seja breve.

Minha querida Rosinha
Porque sofres assim?
Não partas, por favor
Fica, fica comigo aqui.

Maria Antonieta Oliveira
18-09-2019

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Amigos VS Família





Há amigos que são família
Há família que nem amigos são

E tu que és família, és amigo
Ou serás apenas sangue do mesmo sangue?!

Amiga do teu amigo
Ou amigo da tua amiga
Contrassensos da vida
E família, onde fica a família?

Sangue putrefacto
Vida de artefacto
Caminhos desavindos
Sonhos destruídos

E onde estão os amigos?
E onde fica a família?

Há um coração que bate convencido
Adormecido, mas, quando acorda
Vê que se engana e se dá por vencido
Onde está afinal aquele outro amigo?!

E a família onde está a família?

Maria Antonieta Oliveira
16-09-2019




Queria Estar Contigo







Queria tanto estar contigo, meu amor
Aninhar-me no teu colo
Sentir teus dedos afagando o meu cabelo
E o pulsar do teu coração
Batendo forte de emoção

Queria tanto estar contigo, meu amor
Sentir as tuas mãos macias
Percorrendo o meu corpo carente
E num abraço apertado
Sentir que te tinha a meu lado.

Queria tanto estar contigo, meu amor
Olhar fundo os teus lindos olhos
E ler neles o que sempre disseram
Sentir que hoje como ontem
O amor, o nosso amor existe.

Queria tanto estar contigo, meu amor.

Maria Antonieta Oliveira
16-09-2019

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

E Sou





Não sei o que teria sido
Se fosse
Mas sei o que foi
Não sendo
Não sei
Mas sei o que sou
Não sou o que queria ser
Sou aquela que vive
Continua vivendo
Segue em frente
E é!

Maria Antonieta Oliveira
13-09-2019

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mentira





Detesto a mentira
Detesto gente que mente
E porque minto eu?!
Porque me obrigam a mentir?!
Sim, desde menina que minto.
Aprendi a mentir, para viver
Viver a vida que devia viver
A que nem sequer me deixavam ver

Menti, mentia e minto
E será que vivo?
Será que vivo a vida que ambicionei
Sem mentira, com a verdade da realidade
Mas, menti e continuo a ter que mentir
Mesmo assim, continuo a não viver.
Não vou mais mentir
Talvez consiga um dia eu SER.

Maria Antonieta Oliveira
10-09-2019

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Estou Cansada





Estou cansada,
Tão cansada, meu Deus
Nunca me deixaram ser
Nunca fui
Como eu queria ser
Nem que fosse um dia apenas
Mas ser
Eu

Foste tu
Minha primeira opressão
Depois, foste tu
Sem opressão, me oprimiste
Fui eu cobarde
Que me deixei ir
Indo.

Agora, és tu
Tu que oprimes por quem passas
Tu que és gelo em dia de inverno
Tu que foste e és amada
Tu que destróis o caminho
Por onde passas
Não me destruas mais, por favor.

Porque eu
Estou cansada,
Tão cansada, meu Deus.

Maria Antonieta Oliveira
09-09-2019

domingo, 8 de setembro de 2019

Flores





Alecrim,
Teu cheiro de menino
Alfazema,
Lembra-me o teu perfume
Rosa,
Linda mesmo ferida
Cravo
Lembra a liberdade
Orquídea,
Sinto saudade

Dálias, jarros, jasmins
Gladíolos, hortênsias
Perpétuas, estrelícias
Tantas mais
Flores de todas as cores
Sentimentos enraizados
Nas raízes por mim plantadas.

Maria Antonieta Oliveira
08-09-2019