sábado, 29 de dezembro de 2018

Cheiro a Morte




A semente na terra depravada
Cheira a morte
Morte perpetuada na semente renegada à terra
Cheira a frio
Ao frio do calor de um estio tardio
Cheira a rosas
Com espinhos cravados na inocência de quem sofre
Cheira a lírios
Espezinhados na estrada pardacenta
Cheira a fumo
Do fogo ardente da virgem que parte
Cheira a sol
Ao calor que cai a pique na alma sofrida
Cheira a vida
Do choro nascido num parir de amor

Mas
A semente na terra depravada
Cheira a morte.

Maria Antonieta Oliveira
29-12-2018



sábado, 22 de dezembro de 2018

O Peso dos Dias





Sinto o peso dos dias
Nos meus ombros cansados
Gastos e doridos
Sinto o frio das noites
Em que os ossos não dormem
E as dores são companheiras
Nos sonhos que não nascem
Sinto a solidão
Transposta nos momentos
Em que vocês não estão
Estando
Sinto a tristeza
Por não vos ter comigo
Não vos poder abraçar
E os beijos ficarem nos lábios sedentos
Sinto falta
De abraços apertados
Sentidos
Dados com carinho e verdade

Sinto!
Sinto o peso dos dias
Que voam sem esperança.

Maria Antonieta Oliveira
22-12-2018

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Chove lá Fora

(foto de Joaquim Sustelo - Horizontes da Poesia)



Chove lá fora, amor
Fica comigo no calor da lareira
Deixa que os pingos caiam
No caminho que não seguimos
Deixa que o brilho do sol
Faça renascer a lua estrelada
E o amor seque a calçada.
Mas,
Chove lá fora, amor
Não partas assim de mim
O caminho está molhado, escorregadio
Cada pingo gelado e frio
Arrefece teu corpo, tua alma
Aqui, tens o calor do meu abraço
Onde o sonho penetra o espaço.

Chove lá fora, amor.

Maria Antonieta Oliveira
19-12-2018

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Pudesse Eu

(foto Joaquim Sustelo - Horizontes da Poesia)


Pudesse eu encontrar-te
Para lá desse céu em combustão
Pudesse eu sonhar-te
Para lá desse mar em calmaria
Pudesse eu aquecer-te
Para lá desse sol que parte
Pudesse eu ver-te
Para lá dessa lua enamorada
Que me confunde e ofusca
Tornando-me um felino
Divagando em sonhos humanos
Na esperança de ao longe
Ouvir o teu doce chamado
E, num afago carinhoso
Me aninhar no teu colo
Até o sono nos separar
E eu, sozinho no meu canto
Adormecer e ronronar.
Pudesse eu!

Maria Antonieta Oliveira
12-12-2018

sábado, 8 de dezembro de 2018

Os Homens Também Choram





Os homens também choram
Sim, os homens também choram
E porque não haviam de chorar?!
Se os homens também têm coração
Também sofrem
Também amam
E, choram.

E porque não haviam de chorar?!
Só porque são homens?!
São seres humanos.
São gente!
E como gente, que são
Sentem
E, choram.

Maria Antonieta Oliveira
08-12-2018


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Sinto-me Só

(foto de um desafio no Horizontes da Poesia)


Sinto-me só!
Tão só!

Todos partiram, sem mim
Até o sol e a lua me deixaram
Apenas uma neblina ficou
Rosada, brilhante, cadente.
Desventrada, roída
Nem portas ou janelas
Se abrem para o dia que nasce
Ou para a noite que se avizinha
Apenas tu, velha árvore carcomida
Já sem vida
Desfolhada, perdida
Ficaste comigo
Ficaste
Porque também a ti deixaram esquecida.

Ao longe, imagino a esperança
Talvez, quem sabe,
Um dia alguém virá
E de novo a vida acontecerá
Eu e tu,
Fazendo parte de um jardim
Onde as flores se amem
E os homens se respeitem
Onde as crianças sejam felizes
E os pássaros se beijem.

Ao longe!
Apenas ao longe!

Sinto-me só!
Tão só!

Maria Antonieta Oliveira
07-12-2018





sábado, 1 de dezembro de 2018

No Outro Lado

(foto Joaquim Sustelo - Horizontes da Poesia)




Anoiteceu
num céu sem estrelas
e onde as nuvens pernoitam
Caminho, vagueio, tropeço
Mas prossigo
e chego ao fim
Desse lado de lá
onde nossos corpos se unem
Existe luz
a luz do nosso amor
transposto na longitude
daquela ponte.

Maria Antonieta Oliveira
01-12-2018

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Voei Contigo




Olha ali o passarinho, como voa baixinho
Parece trazer no bico uma prenda
Talvez, um recado do meu namorado
Ou uma flor do meu amor
Pousou no jardim sem olhar para mim
Cantarolou, saltitou e voou
Tão alto, tão alto, que deixei de o ver
Fiquei convencida
Que a sua partida não era real
Que um dia, ele voltaria
E então me traria, no bico a tal prenda
Aquele recado do meu namorado.
Então,
O passarinho voando baixinho
Me levaria em suas asas
E os dois iriamos voando, num sonho irreal
Depois,
Pousaria no chão
E eu com a mão o afagaria
Lhe agradeceria tão bela viagem
Quanta ilusão!
Aquele passarinho jamais apareceu
Porque o meu namorado, de mim se esqueceu.

Maria Antonieta Oliveira
28-11-2018

Reencontro





Olhei-te de lado
E tu assustado
Fugiste de mim
Oh Deus, por favor
Dizei-lhe assim:
Não vás apressado
Quem está a teu lado
É o teu grande amor.
Olhaste-me sorrindo
E quase caindo
Correste embaraçado
Olhei-te de novo
E ambos sentimos
Nosso corpo abraçado.
E num reencontro
Felizes sorrimos.

Maria Antonieta Oliveira
28-11-2018




Caminho ou Destino





Saíste correndo, nem para trás olhaste
Apenas levaste, do pouco que tinhas
Um coração sangrando num peito apertado
Um olhar sombrio, num rosto pequeno
E num passo apressado, sem ninguém a teu lado
Caminhaste segura.

Ergueste o olhar
E de sorriso no rosto
Apagaste o desgosto
O sol de novo brilhou
E o teu rosto franzino
Caminhando de mansinho
O destino encontrou.

Maria Antonieta Oliveira
28-11-2018

A Poesia É




A poesia é a alma que grita
E o coração que chora
Um choro calado
Sem lágrima caindo
Um coração magoado
Num rosto sorrindo

E a poesia grita e clama
E voa correndo
Pelos mares do mundo
Pelos céus sem fim.
E a poesia solta-se
E as palavras nascem
E o poema é parido

Porque a alma gritou
O que o coração chorou.

Maria Antonieta Oliveira
28-11-2018

domingo, 18 de novembro de 2018

Sem Luz





Acendi o candeeiro da sala
Abri a janela do dia
Olhei o céu já estrelado
Sem perceber a escuridão imposta no meu coração

Aquela luz perdida
Desviada, escondida
Ausentou-se, partiu
Partiu no mesmo dia em tu partiste

Mas eu fiquei
Fiquei colada ao sofá
Grudada à vida
Àquela que eu queria contigo ter vivido

A luz esvai-se
Na escuridão permaneci
Mas não me perdi
Porque perdida já eu estava por ti.

Sem luz
Sem amor
Sem ti
O que faço eu aqui nesta sala onde o candeeiro se apagou?

Acendi o candeeiro da sala
Abri a janela do dia
E pela nesga da lua
Entraste de novo no caminho do meu viver.

Maria Antonieta Oliveira
18-11-2018




domingo, 4 de novembro de 2018

Quero-te




Quero ouvir a tua voz ao acordar
Quero poder no tempo recuar
Quero fluir, sentir, viver
Viver intensamente cada momento

Quero as lágrimas dos teus lábios
Caídas de um triste olhar
Beber em sofreguidão

Quero ver um semblante feliz
Na tua face nascida de um poema
Quero ser a poeta, a escritora
Aquela que te olha em poesia
E te vê estrofe por escrever

Quero-te escrever em palavras
Quero-te escrever em poesia.
Quero-te escrever um poema.

Maria Antonieta Oliveira
04-11-2018

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Não é Natal





Olhei o chão em sombreado
Nele havia um vazio assinalado
Um rosto tristonho, escorrido
De lágrimas soltas caindo
As mãos sujas e trémulas
Afagavam a perna dormente.

Em surdina, cantarolava
“É Natal… É Natal… Ouvem-se os sinos…”
E os sinos faziam-se ouvir
Uma… duas…
Doze badaladas são tocadas

No chão em sombreado
Caia inanimado
Aquele que nunca soube o que era
Natal.

Maria Antonieta Oliveira
02-11-2018

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Luar




Luar
Luar que convida ao amor
Luar que inspira os poetas
Luar que alumia o caminho da dor
Onde se perdem os filhos da paz
Luar dos enamorados
Dos perdidos e reencontrados
Luar dos dias cinzentos
Em noites desconhecidas
Luar orgulho do céu anoitecido
Em dias de sonhos destruídos

Luar lágrima
Luar mágoa
Luar sorriso.

Maria Antonieta Oliveira
31-10-2018

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Âncorada Irei





Sinto-me tentada a partir na âncora daquele navio
Não sei para onde, mas sei que quero ir

Quero ir nas barcas da lua em quarto crescente
Quero sentir o sol ao acordar
E beijar a lua ao adormecer
Quero pousar em terra firme
E sentir que voei bem alto
Quero partir e chegar sem sair do mesmo lugar


Sentada na âncora daquele navio
Irei partir sorrindo.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2018






O Coração Sangrou






Hoje a saudade bateu à minha porta
O coração sangrou chorando
Olhei o céu implorando
Ver esse teu doce olhar
Ver o sorriso que não sorriste
E abraçar-te como nunca fiz
Queria ter-te comigo
E para sempre ser feliz contigo.

Hoje a saudade bateu à minha porta
E
O coração sangrou chorando.

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2018



Alentejo





Casas de branco caiadas
De azul ou amarelo listadas
Casas simples

Gentes de bem
Onde o pão nunca falta
Nem o afago e o carinho

Gentes boas acolhedoras
Com a mesa sempre posta
Para dar de comer a quem chega
E um sorriso nos lábios
Mesmo que o coração chore

Gentes doridas sofridas magoadas
Cantando de sol a sol
Entre chaparros e oliveiras
Videiras e alecrins
Vão vivendo e revivendo
Os dias que faltam viver.

É assim o Alentejo
Que amarei até morrer!

Maria Antonieta Oliveira
29-10-2018






Doce




Com a doçura do amor
Num olhar jamais esquecido
Encontra a paz interior
No teu coração renascido.

Maria Antonieta Oliveira


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Cálice





Pousei o cálice no balcão do destino
Pousei a cabeça na vida em desalinho
E meditei.

Cansada de tanto errar
Pelas ruas do caminho a vaguear, adormeci
E sonhei

Calquei as pedras que pisaste
Mergulhei nas águas onde te banhaste
Comi as sobras que deixaste
Bebi da saliva que me deste
Dancei na tua nudez
Cantei ao som do teu hino
Vivi na vida que não foi
E acordei.

No balcão,
O cálice continuava pousado
Vazio
Sem vida ou destino.

Maria Antonieta Oliveira
25-10-2018

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A Nossa Poltrona





Soletrei a palavra esquecimento
E lembrei-me de ti.

Nesse recanto, onde a poltrona
Era a nossa poltrona
E a sala adornada de música suave
Era o baile encantado de nós
E o corredor por onde os caminhos fluíam
Era a vereda florida do amor
A janela,
A nossa janela onde os olhares esperavam
Era a saudade do dia que não chegava
E a poltrona, a nossa poltrona
Sozinha desesperava.

Quando de ti me lembrei
Apenas a palavra amor, soletrei.

Maria Antonieta Oliveira
25-10-2018

domingo, 7 de outubro de 2018

Esqueceste-me






Abri o livro
O teu livro
O livro da tua vida
Queria ler-te sem que soubesses

Li e reli
Queria viver o que viveste
Saber do teu pensamento
Quando o tempo não era nosso
Saber o teu caminho
Quando o destino nos separou
Li todas as linhas
E tentei nas entrelinhas encontrar-me

Página a página
Letra a letra
Soletrei cada palavra
Sílaba a sílaba
Incrédula, fechei o livro
Passei na tua vida
Mas tu,
Tinhas-me esquecido.

Maria Antonieta Oliveira
07-10-2018

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Eixo da Vida







Num rodopio invulgar
Do eixo da vida
Num eclipse total
De um céu iluminado
Num tempo sem tempo
De um pulso já parado

Rodopio no tempo
Floresço no dia
Em que o relógio parou.

Maria Antonieta Oliveira
05-10-2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Quando Os Versos Não Saem





Quando os versos não saem
E as palavras ficam por dizer
O poema não extravasa
O que a alma sente
E a mente reclama
O coração chora
E o olhar fica perdido
No vale do teu rio
Que passa no meu leito
Desfeito
Sem calor que o alimente
Porque
Os versos não saem
E as palavras ficam por dizer.

Maria Antonieta Oliveira
01-10-2018

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Olhares




Escolho as palavras
Para que sintas no meu olhar
O que sente o coração
Olho-te
Olhas-me
Olhamo-nos de soslaio
Como se fosse
O nosso primeiro encontro

Lês-me

As palavras que escrevo
No dia em que nossos olhos se tocaram
E sentes
O que o coração me ditou
Nesse escrito
Que será eternizado.

Maria Antonieta Oliveira
18-09-2018

domingo, 16 de setembro de 2018

Oceanos




O mar nos afasta
O mar nos aproxima
Nesse mar levada
Nesse mar trazida
A voz de um povo
A alma que canta
A palavra amor
A palavra saudade
A dança, o samba
A canção, o fado.

E em poesia
Se fez amizade
E com alegria
Se bebeu sabedoria
Se viveu felicidade.

Maria Antonieta Oliveira
15-09-2018
3º Festival da Poesia de Lisboa

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Passeei Contigo





Passeei contigo
Num mar de abrigo
Beijei teu olhar
Num braço de mar
Saltei, pulei, dancei
E não te encontrei
Na areia molhada
Na toalha deitada
Em ti pensei
Contigo sonhei
E em teus braços
Criei os meus laços.

Passeei contigo.

Maria Antonieta Oliveira
11-09-2018




quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Rafael



O tempo passa, meu anjo
A cada segundo
O meu amor por ti, aumenta
Bebé menino
Menino crescendo
E tudo mudando
Os nossos abraços
Esses,
Continuam nossos
Os nossos beijos
Continuam sendo

O menino bebé
É pré-adolescente
Sou eu que lho digo
E ele,
Com um sorriso maroto
Um olhar brilhante
Confirma o que lhe chamo
Oh meu príncipe
Tu nem sabes
O quanto te amo.

Menino, homem, pré-adolescente
Meu neto querido.

Maria Antonieta Oliveira
06-09-2018

Francisca





De sorriso gaiato e olhar traquina
Te vejo
Te beijo e te adoro
Olhos de flor nascida
Boca de princesa
Corpo de menina
Sorriso feliz
Abraço apertado
Beijo roubado
Eu e tu
Crianças brincando
Felizes cantando

Eu e tu
Minha neta querida.

Maria Antonieta Oliveira
06-09-2018

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Entendes?








Nasce um rio
No afluente, uma flor
Na flor vi uma borboleta
Aquela em que eu queria pousar
E com ela voar
Voar até te encontrar
E num abraço teu
Sentir-te meu
Só meu, entendes?

Nem borboleta
Nem flor
Nem tu
Apenas eu continuo
Sem asas para voar
Sem o teu abraço
Para me realizar
Sem rio ou afluente
Só eu, entendes?

Maria Antonieta Oliveira
05-09-2018

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Sou Silêncio





Sou silêncio
Num espaço aberto
Onde encantam os pássaros
Sou canção calada
Pela voz de quem não sabe cantar
Sou rio sem água
Levada para o mar profundo
Sou fonte seca
Sem lágrimas para chorar
Sou esqueleto andante
Caminho errante
Navio naufragado
Rochedo encalhado
Sou frio, vazio
Noite sem luz
Vela apagada
Sou vento Norte
Caminho sem sorte.

Sou silêncio
Num espaço aberto.

Maria Antonieta Oliveira
30-08-2018

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Seiva Brotando





Seiva que brota
De um pasto sedento
Ávido da pureza da água
Que o alimenta
Pegajoso, pecaminoso
Seiva melada, arrojada
Conspurcada
De sabores pestilentos
E odores nefastos

Seiva brotando
Na vida deslizando.

Maria Antonieta Oliveira
23-08-2018

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Coração Apertado






Sinto o coração apertado
Num sentir descompassado
Pulsando sem modo nem jeito
Bem dentro, do meu peito destroçado
Sinto-o partido, perdido, ferido
Batendo sem tempo nem hora
Vivendo o ontem, agora
E a minha alma chora, traída
Na vida, da outra vida
Que não vivi.

Maria Antonieta Oliveira
23-08-2018

Infiltrada





Infiltrada
Passei a fronteira da liberdade
Senti saudade
Magoada
Ultrapassei sorrisos de lágrimas salgadas
Chorei.

No escasso tempo
Do tempo que me falta
Quero viver
Para lá da fronteira da saudade
Infiltrada
Em liberdade

Maria Antonieta Oliveira
23-08-2018

Num Jardim Qualquer





Num jardim qualquer
Onde a vida morou
Existem pássaros vadios
Que o vento do mar, trouxe
E, há nuvens de sal
Pousadas na cúpula de uma flor
E, há vidas desfeitas
Na bravura do mar
E, há ondas de espuma
Onde os sonhos se perdem

Num jardim qualquer
Onde a vida morou
Morou o meu coração.

Maria Antonieta Oliveira
23-08-2018


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Não Partas





Parte!
Leva contigo a saudade
O amor e os beijos
Deixa-os comigo
Para que os saborei
Nos meus lábios
Ansiosos de sonhar

Leva a saudade contigo
Mas, não partas
Fica comigo
Para que os meus lábios
Sintam o calor dos teus
Nos beijos de amor
Só nossos.

Não partas, amor!

Mara Antonieta Oliveira
16-08-2018

Noite





Mais uma noite
Adormece o dia
Em que não te vi
Segredos só meus
Que a escuridão esconde
E esquece

A noite
Continua adormecida

No meu rosto
A lágrima caída
Já secou
Na almofada, molhada
Adormeci
Cansada
De tanto esperar por ti.

E a noite
Acordou, por fim.

Maria Antonieta Oliveira
16-08-2018

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Falhou






Desliza o meu coração
Pela rua da saudade
Tropeça na tua foto
Escorrega de mansinho
E segue outro caminho
Esbarro no muro da felicidade
Do chão, ergo-me à vida
Que me falhou
No dia em que o sol não mais brilhou.

Desliza o meu coração.

Maria Antonieta Oliveira
14-08-2018


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Nudez





Olhei teu corpo nu
E senti a nudez da minha alma
Não te vi, por te ver
Vi-te, vestida de mim
Minha alma transbordou
E teu corpo desnudou-se
De novo, te vi em mim
E na tua nudez me encontrei.

Maria Antonieta Oliveira
09-08-2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Sentada na Soleira da Porta





Nas noites em que a madrugava tardava
Sentada na soleira da porta
Revia-te nas águas cálidas do outono
E sonhava
Murmurando um sussurro abafado
Amava-te em silêncio
De olhos postos num recanto imaginário
De mão na mão
Naquele abraço
Beijava o teu ser, tão meu
Inebriada e feliz
Sorria encantada.

A madrugada tardava
E eu, continuava
Sentada na soleira da porta.

Maria Antonieta Oliveira
06-08-2018

terça-feira, 31 de julho de 2018

Encontrei Um Jardim





Encontrei um jardim
Pareceu-me encantado
Ah maldito, este meu fado
Perdi-me nele
Entre veredas frondosas
Piquei-me nas rosas
E um jasmim
Sorrio de mim
Mais adiante
Um vento levante
Levo-me no ar
E titubeante pousei no mar
Bati bem no fundo
E o que era um jardim
Tornou-se para mim
Um pesadelo profundo.

Maria Antonieta Oliveira
31-07-2018

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Vesti-me a Rigor




Vesti-me a rigor
Com o primor de uma donzela
Saia rodada, comprida
Laçada na cintura
Chapéu de aba larga
Por debaixo, um laçarote
Que adornava o cabelo
Sapato de salto alto
Batom vermelho
E unha pintada
Empinocada e convencida
Olhei-me ao espelho
A donzela, já era velha
A fatiota, fora de moda
Com o salto do sapato
Nem um passo era dado
O chapéu, oh Deus meu
O vermelho do batom
E as unhas no mesmo tom
O melhor, era nem ver
Afinal,
Vesti-me a rigor
Mas não fiquei um primor.

Maria Antonieta Oliveira
28-07-2018

sábado, 28 de julho de 2018

Pensando Pessoa

(Imagem da Net)




Fingindo
Ser o que não era
Foi sendo
O poeta partilhado
Em nomes inventado.

Maria Antonieta Oliveira
28-07-2018

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Teatro da Vida





Encenei o teatro da vida
Fui actora e assistente
Fui público na plateia
Fui plebeia na aldeia
Fui rainha num castelo
Ri, chorei
Aplaudi, assobiei
Vivi cada cena
Cada acto
Senti o sabor da vitória
Senti o sabor da derrota

Cambaleei no palco da vida
Por mim encenada
E, parti.

Maria Antonieta Oliveira
27-07-2018

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Onde Estou?





A lua
O sol
O mar
A areia que desliza
E piso
E ondula
No ondular dos meus sonhos
E a vida
A vida que vivo
E passa
E voa
No voo de uma nuvem.

E eu
Onde fico eu?!
No rochedo escondido
Na gruta da montanha
Na praia deserta
No caminho esquecido
No sonho perdido
Na lua
No sol
No mar
Deslizando na areia movediça
Do dia de ontem.

Maria Antonieta Oliveira
25-07-2018


domingo, 15 de julho de 2018

Vi-te Partir





Vi-te partir, meu amor
Contigo, nada levaste
Em mim, tudo deixaste
O sabor dos nossos sonhos
E o sorriso das nossas bocas ávidas
Fiquei com tudo.
Mas, fiquei sem ti.

Maria Antonieta Oliveira
15-07-2018

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Abracei-te





Abracei-te
no dia em que o abraço se fazia ausente
senti-te no amago do meu sentir
emanaste a luz do amor
num dia em que as trevas me visitaram.

E, abracei-te
Sem que sentisses, tornei-te meu
num momento,
num espaço,
num abraço.
E assim ficámos
enlevados nesse sentimento de prazer
em que nossos corpos se uniam
e extravasavam orgasmos de luxuria
palavras proibidas, lascivas
proferidas pelo êxtase da paixão.

E, abracei-te!
Abracei-te, no abraço que te queria dar!

Maria Antonieta Oliveira
09-07-2018

Saudade







Ler saudade!
Sentir saudade!

Saudade também de ti, minha mãe,
Que me deste o que pudeste
Me ensinaste o que sabias
E tanto sabias, mãe!
Recta e pura, na tua simplicidade
Meiga e tranquila, no carinho e no amor
Azeda e fria, quando a vida te traia.

E nós?!
Onde ficou o nosso amor?!
Nos reveses da vida
em que não nos compreendíamos
Imagens secretas
Sons distintos
que nunca esqueci
e me traíram, ofuscando o meu sentir

Tu, sempre tu
caminhaste a meu lado
nos dias sombrios de sorrisos tristes
ou, em sorrisos abertos de ternura
De repente, o teu eu superior
deixou de existir
e, aos poucos vi-te partir
entre máscaras e tubos e fios
E sem um sorriso ou um beijo
partiste sozinha
ao encontro de uma paz merecida.

Amo-te mãe!
Tenho saudades do teu sorrir!

Maria Antonieta Oliveira
09-07-2018
Poema escrito após a leitura do livro “última palavra mãe” de José Jorge Letria.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Espelho da Vida





Percorro o olhar neste espaço exíguo onde me encontro
Nada vejo,
para além de um passado pendurado nas paredes
e, um olhar pesado que me atormenta
desde ontem, sempre hoje
Será que amanhã volto a encontrar-te?!
Esse olhar sinuoso que me persegue
aqui… ali… agora… sempre.

Olho-te, bem de frente
na demência de existir
mas, existo, e sou
o outro olhar por detrás
do espelho da vida.

Maria Antonieta Oliveira
04-07-2018

domingo, 1 de julho de 2018

Além Tejo





Atravesso os campos do meu Alentejo
perco o olhar na magia dos verdes
em ramos de videiras
que circundam o caminho.

O Tejo, esse,
continua caminhando por debaixo das pontes
a do Vasco da Gama, o 1º Conde da Vidigueira
pisei-a sem pisar e deixei-a para trás
voltarei mais logo, para de novo a pisar.

O olhar perdido, saudoso
acompanha o caminhar
Os campos, ficam retidos
nos ramos das videiras
E eu, perco-me
num olhar infindo
sobre o Além Tejo.

Maria Antonieta Oliveira
01-07-2018