sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Verde do Teu Olhar

(foto de um desafio do HP)



No verde do teu olhar
Vejo cascatas de sal rolando
Lembram-me lagos espelhados
E pedras de sonhos perdidos.

A água escorre límpida
Por entre muros inscritos na natureza
Soltam-se folhas da verdura
Que circunda o meu olhar

E as cascatas de sal rolam
Na saudade do verde dos teus olhos.

Maria Antonieta Oliveira
28-02-2020

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Um Só




A alça descaiu
O decote ficou vazio
A pele rosada fez-se ver
Senti o teu olhar penetrar-me
Lisonjeada temperei o momento
Lambi o lábio superior, de seguida o inferior
Massajei o colo viçoso
Desci até sentir a perna aveludada
E tu, olhavas-me babando
Levantaste-te
Receei a tua aproximação
Mas, ao sentir a tua mão sedosa
Passeando pela minha pele sedenta
Deixei-me levar pela emoção
Há quanto tempo, tanto
Embrenhados na escuridão
E no silêncio do quarto só nosso
Unimos os corpos, num só
Entre orgasmos partilhados
Sentimos o prazer infindo
De sermos, tu e eu
Um só amor.

Maria Antonieta Oliveira
26-02-2020

Parabéns Meu Amor


Apetece-me gritar ao mundo
Que sou tua avó
Apetece-me dar-te um abraço
E dizer que te amo
Que tenho orgulho no menino que és
Apetece-me, porque sim
Porque és um ser especial
Um menino-homem, pré-adolescente
Que sabe o que quer e como quer
Apetece-me, amor
Apetece-me gritar bem alto
Para que todos saibam
Que sou tua avó
E tu,
És o meu neto amado
O meu Rafael.

Maria Antonieta Oliveira
26-02-2020

Navio da Paz


Desliguei o telefone
As luzes apagaram-se
Recolhi-me ao recanto do sofá
Sofá encantado que me levou
Levou num sonho jamais imaginado:

Partimos num navio adornado de paz
À procura do mundo
Demos as mãos às crianças sofridas
Sarámos-lhes as feridas
Abraçámos idosos esquecidos
Cuidámos doentes em fim de tempo
Plantámos e semeámos aromas de vida
Dançámos a dança da felicidade
Convencidos que era esta a realidade

O sofá trepidou
O meu sonho acordou
Fiquei triste
Afinal,
O navio da paz não existe.

Maria Antonieta Oliveira
23-02-2020

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Máscaras



Mascarei-me de princesa
Queria um dia ser rainha
Depois,
Mascarei-me de varina
Queria vender para não ter que o comer
Então,
Mascarei-me de patrão
Queria ser dona de um palácio
E ter muitos empregados
Todos eles mascarados
De reis ou de rainhas
De pescadores ou varinas.

Usei todas as máscaras
Das mais simples às poderosas
Senti-me enganada
Por tanta máscara usada
E nenhuma me fazer feliz
Afinal,
Apenas com a minha pele
Sem máscara sou mais fiel
A mim mesma, à minha pessoa.

Maria Antonieta Oliveira
21-02-2020


Foi Deus


Cruzo-me contigo nos degraus
E espaços por onde caminhamos
Cruzo-me contigo
Nas esquinas das ruas
Que calcamos todos os dias
Cruzo-me contigo
Nos cafés e bares
Que um dia partilhámos
Cruzo-me contigo
Nos parques e nas flores
Que outrora colhemos
Cruzo-me contigo
Desde o tempo em que nascemos
Pois foi nesse tempo
Que Deus nos pôs de frente
Para que um dia
Me cruzasse contigo.

Maria Antonieta Oliveira
21-02-2020

Parabéns Avô Vitó


Já são muitos os anos
Algumas décadas de vida
Alegrias, tristezas
Enganos e desenganos
Amores e desamores
Dores passadas, sofridas
Mas sempre comigo
Tu, menina do laço
Amor eterno da minha vida.

Nossa filha amor de nosso amor
Nossos netos amores de nosso amor
E os anos foram passando
Eu e tu, cansados fomos ficando
Arrelias e desavenças
Tudo foi superado
E assim vamos seguindo.
Já são muitos os anos
Algumas décadas de vida

Maria Antonieta Oliveira
21-02-2020


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O Xaile


De xaile dobrado
E chinelo calçado
Saí pela rua
O sol queimava
O piso escorregava
Com cautela continuei
Desci a escada
O chinelo cantava
Na pedra do degrau
Era a tua voz que ecoava
Era o teu fado que o chinelo cantava
E eu escutava
Encantada parei
E a tua voz também parou
Deixei de ouvir o fado cantado
Nem voz nem fado
O chinelo calado
E o xaile dobrado
Era um sonho mal acordado.

Maria Antonieta Oliveira
18-02-2020

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Encontrei o Amor



Solto beijos ao vento
Solto abraços às nuvens
E sorrisos ao sol
Tento acariciar a lua
E voar com os pássaros
Mas, o vento, não quer os meus beijos
Nem as nuvens, os meus abraços
O sol até se escondeu
E a lua desapareceu
Nem os pássaros me ligaram
E voar sem asas não consigo

O vento voltou
Trouxe os meus beijos
No bico da pomba
O sol brilhou sorridente
E a lua soltou-se das nuvens
Iluminando o meu coração
Já não preciso de asas
Num voo rasteiro
Encontrei o amor.

Maria Antonieta Oliveira

17-02-2020

Perco-me Contigo


Nas curvas do teu corpo perco o tino
E sem destino,
Percorro cada ressalto
Cada lomba, cada pedra
Que encontro
Desatinada, louca e madura
Entrego às mãos o prazer
De te sentir, de te ter em mim

Perdida e apaixonada
Guardo o teu cheiro
Naquela caixa rosada
Que um dia me ofertaste
Quando te dei o meu corpo
Ofegante, solto gemidos
De desejos proibidos
E, perco-me contigo.

Maria Antonieta Oliveira
17-02-2020


Antes de Morrer



Antes de morrer
Quero que saibas que te amo
Antes de morrer
Quero pedir perdão,
A todos os que mal tratei
A quem ofendi ou desrespeitei
Também a quem amei sem amar
E a quem não amei amando

Antes de morrer
Quero que saibas que fui feliz
Nos momentos contigo
Na amizade verdadeira
Nas ondas e na areia da praia
Nas estradas e caminhos percorridos
Também fui feliz nos abraços
E nos beijos trocados

Antes de morrer
Quero ser feliz e viver!

Maria Antonieta Oliveira
17-02-2020


Pus de Parte o Tempo


Pus de parte o tempo
Aquele em que tu não estás
Fiquei sem tempo para mim
Porque o tempo partiu atrás de ti
E eu, fiquei parada, aqui no meu canto
Sem tempo para viver
Viver sem ti, não é viver
Habituaste-me a estares comigo
Nem que seja em pensamento
Mas o tempo, esse que foi um tempo
Já não é, nem teu, nem meu
O tempo seguiu
O tempo não parou
Cansada e sem tempo
Pus de parte o tempo.

Maria Antonieta Oliveira
17-02-2020

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Quando Eu Nasci


Tenho marcada na palma da mão
A história do dia em que nasci
Era uma noite em final de primavera
Quente, fria, dorida, sofrida
E bebida na venda da vila
A mãe esperava a aparadeira
A avó pedia para chamarem o pai
E eu, teimosa logo à nascença
Empurrava a barriga da mãe
Que gritava sofrendo
Ao mesmo tempo, desejando ver
Será menina? Será menino?
O pai chegou, a aparadeira também
A água já quente e as toalhas brancas esperavam
Força e gritos, gritos e força
E eu, saí chorando
- Olha, é uma menina e tem muito cabelo
A mãe e o pai sorriram de felicidade
A avó Rosa, sorrio de alegria
A avó Maria, essa, pulou de contente
Finalmente era avó e de uma menina
Todos felizes e sorridentes
Apenas eu, chorava.

Maria Antonieta Oliveira
08-02-2020

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Bolso Usado

Guardo o teu beijo
No bolso do lado esquerdo
Daquele casaco já gasto
O bolso usado e roto
Deixou escapar o sabor
Eternizado na minha boca
Saboreio-o sempre que
A língua circunda os meus lábios
Sinto-o presente como se
Também tu o estivesses
Doce e meigo
Terno e quente
Mas,
O bolso usado e roto
Deixou escapar o sabor
Do nosso beijo de amor.

No lado esquerdo ficou
Um coração a sofrer.

Maria Antonieta Oliveira
06-02-2020

Palhaço da Vida

(foto de um desafio do Horizontes da Poesia)



Olhar risonho
Vidrado pelas lágrimas retidas
Sorriso feliz
Escondendo o sentimento
Boca de menino
Esboçando um beijo não dado
Balões e cores
Arco-íris perdido num sentir sofrido
Mãos que afagam
Meninos e crescidos sorrindo
Corações e almas
Unidos em prazenteiros momentos
Tudo nos dás
Homem vestido de palhaço da vida.

Maria Antonieta Oliveira
06-02-2020

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Jardim Imaginário


Plantei flores
Num jardim imaginário
Ofuscado pela luz da lua
Apenas entrava eu e o sol

O sol, adormecia cedo
E eu, fugia com medo
As flores cresciam desfolhadas
Sem brilho nem cor
Faltava-lhes água e amor

Não as cuidei e elas despiram-se
De tudo o que era belo
No meu jardim apenas ficou
A sombra do sol na lua ausente.

Maria Antonieta Oliveira
05-02-2020

Ser Adolescente


Cantei primavera
Quando o outono chegou

Adolescente!
Fui adolescente?
Já não me lembro, foi há tanto tempo
Não, se não me lembro, é porque não fui.
E
O que é ser adolescente?
Bailar ao som do poeta
E cantar na orvalhada do dia?
Sair ao luar da noite
E no bar beber sangria?
Fumar até cair
E da droga não sair?
Então, não fui adolescente!
Ou será
Sonhar, namorar e divagar?
Se ser adolescente é isso,
Eu fui adolescente!

Cantei primavera
Quando o outono chegou.

Maria Antonieta Oliveira
05-02-2020

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Baú Encantado







Fui ao baú
Onde as estrelas fazem caminhos
E os ninhos guardam lembranças
De tempos e vidas passadas
Nos postais e cartas seladas
Encontrei amores embargados de saudade
Outros, suados de tanto amar
Suados do suor dos campos e das searas
Algumas cartas já rasgadas
Segredavam em surdina
Para que ninguém soubesse o que continham
Talvez, guardassem tabus
Virgens mal sucedidas
Ou casadas que foram traídas
Só elas o sabiam

Nos caminhos estrelados
No baú, encontrados
Reluzia o teu olhar
Fixavas-me com ternura
Quanta e quanta doçura
Nesse baú encantado.

Maria Antonieta Oliveira
04-02-2020

sábado, 1 de fevereiro de 2020

A Casa da Outra



Já estive em tua casa, lembras-te?
Aquela que poderia ser minha
Vi o quarto, a cama, vi tudo
Bebi do teu café, do teu beijo
Senti-te, sentiste-me
Mas, nada de nada era meu
Tudo era passado de outra
Tudo era nada de mim
Senti-me de fora
Como outrora
Mas estava contigo, ali
Naquela que não foi minha
Na casa que foi da outra
Estava contigo, ali
Respirando, sorvendo
Estava vivendo a felicidade
De um simples momento.

Maria Antonieta Oliveira
01-02-2020