quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Sonhos





Num rio de água corrente
Banhei meus sonhos

O vento uivou
A chuva apareceu
O céu trovejou
A areia enlameou
Tudo à minha volta desmoronou
E o rio de água corrente
Meus sonhos levou.

À beira do rio voltei a sonhar
Com sol, chuva e noites de breu
Nada me aconteceu
Agarrei meus sonhos com todas as forças
A água do rio
Continuou correndo
E eu, continuei sonhando.

Maria Antonieta Oliveira
31-01-2019

Chove





De janela fechada
Ouço o vento lá fora
Espreito, desviando o cortinado
A rua, parece um rio
A água desliza suave
O verde do jardim mudou de cor
Está macilento, parece neve desfeita
A solidão instalou-se
No deserto da chuva caindo
Bátegas fortes, choram de um céu negro
Triste e desolado.

Cansada, repouso o dia
Num corpo gasto e dorido
Fecho o cortinado.

Maria Antonieta Oliveira
31-01-2019

Tons de Azul

(Imagem de Joaquim Sustelo - HP)




Azul céu
Azul mar
Azul no gelo branco reflectido
E os meninos de smoking alinham-se
Contrastando com seu fato branco e preto.
Será comício?
Será Natal?
É apenas a hora da refeição
A busca pelo peixe fresquinho que os alimentará
Mergulhando na água gelada até o encontrarem.
Ciclos que se repetem
Na vida dos meninos de smoking.


Imagens em azul e branco
Imagens em preto e branco
Assim é a natureza
Unida em formas de amor.

Maria Antonieta Oliveira
31-01-2019

sábado, 26 de janeiro de 2019

Quando Amanheceste






Não sei quando acordaste ao amanhecer
Foram anos escuros num pequeno quarto
Sem janelas nem porta
Ao fundo um pesado cortinado separava
Outras vidas, várias vidas, muitas vidas

Depois, anos depois
O tijolo, a telha, as ripas de madeira
Sem janelas, nem porta
Cortinas de chita florida
Separavam esconsos sem vida

Mais tarde
Já com janelas e porta
Continuaste prisioneira
Sem cortinas, sem cortinados a separar
Sem grades, sem manhãs.

E amanhecias sem acordar
E acordavas sem amanhecer.

Quando amanheceste?

Maria Antonieta Oliveira
26-01-2019


quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Gelam-me os Pés


(imagem de Joaquim Sustelo - HP)




Gelam-me os pés
Nas cascatas do destino
Salpicos de sonhos
Espalhados nas águas correntes
Perdem-se entre ondas de branca espuma

Olho ansiosa para lá
Do semi circulo colorido
Inerte e fria
Aguardo o teu regresso
Mas,

Gelam-me os pés
Nas cascatas do destino.

Maria Antonieta Oliveira
23-01-2019

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Saí Correndo





Saí correndo
Queria encontrar-te ao fundo da rua
Saíste correndo
Querias esquecer que um dia fui tua

Corri sem parar
Num desejo infindo
Corri meio mundo
Ruas, ruelas, esquinas sem vida
Entrei em capelas despidas
Vivi no desespero
Comi do que encontrei
Dormi no chão que pisei
Sofri
Chorei
Caí
Levantei-me
E não te encontrei.

Saí correndo
Saíste correndo

Maria Antonieta Oliveira
21-01-2019

domingo, 20 de janeiro de 2019

Saí ao Anoitecer




Saí ao anoitecer
Num crepúsculo luminoso
Iluminando a esperança do meu coração escurecido
Cadentemente as estrelas fugiam
Uma a uma
E eu, entristecia
Saí ao anoitecer
Para que ninguém visse que te procurava
Queria ver-te
Beijar os teus olhos
Sorrir-te
Queria amar-te em segredo
Sem olhares escondidos nas janelas já fechadas, gradeadas
Queria sentir os teus braços
Entre o meu corpo
E os lençóis macios
Da cama que nunca foi nossa.

Queria tanto, tudo
Sem nada
Cheguei ao amanhecer.

Maria Antonieta Oliveira
20-01-2019

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Violeta

(foto de Joaquim Sustelo - HP)


Num tapete violeta
Com cheirinho a alfazema
Passeei meu sonho naquele jardim
A tarde ia alta, o sol abrasava
E eu, passeava
Envolta em brancura
Como alva é a neve
Pisava o macio e sedoso caminho
Na cesta levava
Sonhos e quimeras
Levava também
Saudades d’outras eras

Plantei com carinho
Perfumei o caminho.

Maria Antonieta Oliveira
16-01-2019


domingo, 13 de janeiro de 2019

Tempo Sem Tempo




Canecas de barro vazias
O vinho, ficou esquecido perdido no tempo
Asa sem mão num jarro sem tempo
E o tempo, desse tempo regressa
E a mão sem jarro nem asa, permanece viva
Mas ausente, ausente de nós
Porque nós, também nós
Ficámos perdidos no tempo.

Maria Antonieta Oliveira
13-01-2019

sábado, 12 de janeiro de 2019

Nada de Nada





O que somos?
O que levamos?

Nada somos
Nada levamos.
Também nada trouxemos,
Trouxemos uma alma vazia
Cheia de nada
Tudo criámos
Tudo vivemos
Tudo desejamos
E o que fizemos?

Somos matéria, pó, cinza e nada
E como pó, somos levados pelo vento
Como cinza, somos o resto de um calor ausente
E somos nada, nada mesmo
Porque somos matéria, sem matéria.

Pó, cinza e nada.

Maria Antonieta Oliveira
12-01-2019