quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Não Sei Nadar


Vi-te chegar
De garras afiadas e olhar soturno
Metias medo
O susto apoderou-se de mim
Tremi, sim, tremi, fugi
Já cansada e sem pensar
Voltei atrás
Desafiei-me, desafiando-te
Sem medo, tremendo
Com uma coragem desconhecida
Enfrentei-te
Tinha que me superar
Abraçar-te
Sentir-te na minha pele
Mas
E depois?
Tu e eu nunca nos unimos
Porque eu nunca soube
O que era entrar no mar
E ir mais além
Eu, nunca soube nadar.

Maria Antonieta Oliveira
29-01-2020


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Queria Ser Borboleta



Entrei nas águas cálidas do teu corpo
Banhei-me no suor quente do teu rosto
Enrosquei-me em ti, aqueci
Tu, dormias tranquilamente
Um sono profundo
Qual bebé embalado no colo de sua mãe
Sorriste
E eu, olhava-te
Queria adormecer contigo
Sonhar connosco
Sentir o teu coração colado no meu
Mas, olhava-te adorando-te
Não eras um qualquer amor
Eras aquele por quem sofregamente ansiava
Aquele cujo olhar me encantava.

Ah como eu queria ser borboleta colorida
Ou simplesmente mosca com vida
Para voar e em teu corpo pousar
Beber do teu carinho
Beijar teu corpo de menino
E contigo, eternamente ficar.

Maria Antonieta Oliveira
28-01-2020


domingo, 26 de janeiro de 2020

Verbo Amar


Não me esqueci
Não, amor, não me esqueci
Nunca me esqueço de ti, de nós
E nos sonhos que sonho
Tu estás, estás sempre lá
Sonho a dormir
Sonho acordada
Vejo-te sorrindo de covinhas na face
Vejo-te saindo sem mim
Vejo-te voltando
E corro para ti sem pensar
Porque tu e eu
Conjugamos na perfeição
O verbo AMAR.

Maria Antonieta Oliveira
26-01-2020

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Confissão


Se um dia encontrasse alguém
Alguém que me ouvisse sem julgamento
Que compreendesse este meu sofrimento
O que fui, o que fiz, o que traí
As vidas que vivi, sem viver
As pessoas que conheci, sem conhecer
Com quem falei
Com quem andei
Quem vi e quem me viu.

E o meu corpo?
Quem o conhece?
A quem o mostrei?
E quem eu vi desnudo?
Quem me acariciou?
Quem me beijou?
Quem me amou, sem amar?
A quem eu amei, sem amor?
Quantas perguntas
Tantas respostas.

Se encontrasse alguém que me ouvisse
Desabafaria este meu tormento.

Maria Antonieta Oliveira
24-01-2020


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Fel ou Mel


Pus açúcar no sal que me deste
Busquei nas flores o néctar
Levado pelas abelhas
Queria fazer o meu próprio mel
Queria vencer, ser heroína
Mudar o rumo da minha sina
Pus toda a doçura que tinha em mim
Nem açúcar nem mel
Sobrou só o teu amargo fel
Levado no sal que me deste.

Derrotada fiquei
Mas não desisti
Olhei-te de frente
Sorri-te, beijei-te
E tu não resististe
Nem disfarçaste
Também a ti enganaste
Porque no fundo
O teu fel disfarçava todo o teu mel
E o amor venceu!

Maria Antonieta Oliveira
23-01-2020



O Rio da Vida


Corre ao contrário a água do rio
Não leva pedras nem restolho
Nem areias ou conchas partidas
Não desagua no mar
Nas ondas majestosas
Batidas e levadas pelo vento

Águas frias e perfumadas
Trazidas e levadas
Em barcos de espuma branca
Velas içadas ao largo
Farol aceso ao tempo
E tudo segue ao contrário

A vida, o rio
O rio da vida.

Maria Antonieta Oliveira
23-01-2020

Saco Vazio


Enchi o saco
Pesado e firme
Foi o meu passo apressado
Pesado e firme
Era o saco cheio de nada
As pedras soltei-as
Para embelezarem os passeios
As flores plantei-as
Para embelezarem os canteiros
Os pássaros soltei-os
Para serem livres e voarem
Os sonhos
Esses, voaram sozinhos
Sem que lhes desse permissão

No saco
Outrora cheio de amor
Apenas ficou
O espaço do tempo
Em que eu e tu fomos felizes.

Maria Antonieta Oliveira
23-01-2020

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Castelo dos Sonhos




Sinto saudades do nosso castelo
E do tempo em que de mãos dadas
Nas ameias espreitávamos
As ruas da nossa cidade
Ai que saudades
Dessa louca mocidade.

Hoje, quando ao longe o olho
Lá no cimo, altaneiro
Olhando Lisboa por inteiro
Sinto-me de novo menina
E na minha mão pequenina
O calor da nossa sina.

Maria Antonieta Oliveira
21-01-2020


Sinto Frio



Sinto frio
Um frio que me arrefece a mente
E congela o coração
Treme-me o corpo
As pernas enregeladas
Negam-se a caminhar
De braços caídos
Sem saber o que fazer
Olho no horizonte
Aquele ponto sombrio
Nem sol, nem chuva
Apenas frio

Um frio imenso
Um gelo intenso
Meu corpo fenece
Meu espírito padece
E este frio
Entra em meu peito vazio
Tornando meu ser inerte.

Sinto frio.
Muito frio.

Maria Antonieta Oliveira
21-01-2020

sábado, 18 de janeiro de 2020

Encontros



Abracei-te
E naquele instante senti que eras minha
Não corria o mesmo sangue nas veias
Mas, eras minha
Afaguei o teu rosto pálido
Senti nas minhas mãos o teu sofrimento
Olhei fundo os teus olhos
Queria ler neles o teu passado
Sentir o que tinhas sentido
Perceber o teu viver, para te poder ajudar
Da tua boca outrora rosada, nada saia
Nem uma palavra ou um sorriso
Mesmo que fosse um sorriso triste
Teu corpo frio, pedia conforto
Abracei-te, abracei-te de novo
Mais forte e profundo
Senti então, os teus braços envoltos em mim
E, naquele instante senti que eras minha.

Maria Antonieta Oliveira
18-01-2020




Sair à Noite



Não quero mais sair à noite
A lua ofusca o dia
E o céu empardecido
Parece um caminho desviado
Sem rumo ou intervalo
As estrelas perdidas
Espalhadas em desalinho
Sem destino definido
São lampiões tresmalhados
Sem jeito ou nexo
Os rostos perdidos
Procuram o sexo
O medo e a vergonha
O escuro e a solidão
Entristece a podridão

Vejo-me perdida
Esta não é a minha vida
Não quero mais sair à noite.

Maria Antonieta Oliveira
18-01-2020

Embalei o Sonho



Embalei o sonho
Em papel de rebuçado
Colorido e perfumado
Era doce e apetitoso
O sonho por mim sonhado
Depois de embalado
Muito bem acondicionado
Enrosquei-me à lareira
Aqueci o coração
Partido de solidão
E esperei adormecer
Mal sabia eu
Que o sonho adocicado
Era um sono mal tratado
Embriagado no viver
E de doce só o papel.

Acordei em sobressalto
A boca sabia-me a ti
À doçura da tua boca
Ah loucura, louca
Que não em deixa esquecer-te
Nem eu quero, sabes bem
Nem vou dizer a ninguém
Que és tu o meu amor
E de loucura só mesmo
O amar-te loucamente.

Maria Antonieta Oliveira
18-01-2020



Carta Registada


Enviei muitas letras por carta registada
Desordenadas, sem sentido
A pontuação ficou no tinteiro
Palavras, nenhuma
Sem remetente nem destinatário
Ficou perdida na pasta do carteiro
Caída na estrada, molhada
De poça em poça, o vento a levou
As letras soltaram-se uma a uma
Mesmo molhadas expandiram-se
Formaram palavras e frases
Lindas, sedutoras e soltas
Saíram flores, rios, mares, sol e lua
Amores, desamores, alegrias e tristezas
Montes, serras e vales
Ontem, hoje e amanhã
Vidas vividas, por viver e vidas desavindas
Humanos e desumanos

E, depois de todas usadas
Já bem desembaralhadas
Com toda a lógica e ordenadas
Alguém as apanhou e leu
A carta registada, por mim enviada
Renovada com palavras e pontuação
Já fazia sentido o que nela tinha escrito
Sem tinta, sem letras nem pontuação
Tu, conseguiste ler o que ditou o coração
Neste simples poema, digo apenas
A saudade é eterna do ontem que foi nosso
O hoje, será sempre o amanhã
Em que o amor triunfará.

Maria Antonieta Oliveira
18-01-2020






quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Sabes Que te Amo


Não queria adormecer
Sem te dizer que te amo
Eu sei que sabes
Já to disse milhões de vezes
Há anos que te amo
Muitos, muitos anos
Desde o dia em que te vi
Que te amo
Foi ontem, não foi amor?
Ontem, um ontem já tão longe
Mas foi, foi ontem que nos olhámos
Foi ontem que nos beijámos
Foi ontem que…
Foi ontem, tanta coisa, amor
Mas sabes, amor
Hoje ainda te amo
E
Não quero adormecer
Sem te dizer que te amo.

Maria Antonieta Oliveira
15-01-2020

Parti a Lâmpada


Parti a lâmpada de propósito
Não queria que me visses chorar
Sabes, nem sempre as lágrimas são tristes
Nem sempre têm o sal por sabor
Também não sabem a mel
Quantas lágrimas são felicidade
Alegria e tantas outras, são saudade

Mas, eu não queria que visses os meus olhos
Inchados, vermelhos, tristes, medonhos
Queria que os visses como os viste em sonhos
Esverdeados, alegres e sorrindo de felicidade
Queria que os sentisses de novo teus
Que os beijasses ao som daquela dança
Que um dia foi nossa, só nossa
Na alcova sonhada do amor.

Esses olhos já não existem
Os anos e o tempo sofrido levaram-nos
Hoje, esses olhos bonitos que te atraíram
Estão velhos e cansados
Choram e riem em uníssono
E eu, não quero que os vejas assim
Quero que sempre te lembres de mim
Esbelta, linda e airosa
De olhos verdes, grandes e pestanudos

Aquela lâmpada estava a mais
Parti-a de propósito.

Maria Antonieta Oliveira
15-01-2020

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Passeio Descalça


Passeio na rua descalça
E fria de mente quente
Ausente de mim
Fugida do vento
Perdida no tempo
Fustigada pela maré
Perdida na calçada
Num torpedo
De vela içada
Amanhã será dia
Em que a noite adormecia
E eu
Sangrando de medo
Caminho
Neste inverno gelado e frio
Sem roupa, sem fogo
Sem calor que me aqueça
Ou carinho que me afague
Passeio sem destino
Por entre nuvens de espuma
Vou
E venho
Adormeço
E
Finalmente acordo.

Maria Antonieta Oliveira
07-01-2020

domingo, 5 de janeiro de 2020

Caminho


Sinuoso o caminho
Esse caminho que se me depara
Curvas, mais curvas, contracurvas
As retas são poucas
As paragens, nenhumas
O cansaço é muito
Quero um cenário diferente
Um alpendre onde ficar
Um jardim onde respirar
As curvas insistem em continuar
De rastos e faminta
Preciso de um abrigo onde pernoitar
Onde descansar e pensar
Será este o caminho a seguir?
Será este o meu caminho?

Não!
A estrada é outra.
Sem percalços nem curvas
Com jardins floridos onde o ar é perfumado
E as borboletas esvoaçam dando cor ao lugar
Com janelas abertas com o sol a entrar
Aí é o meu abrigo
Aí vou ficar só contigo e o mar.

Maria Antonieta Oliveira
05-01-2020

Eras Menino


Cantei-te baixinho
Um cântico antigo
Olhavas-me sorrindo
E eu encantada, cantava
“dorme, dorme, meu menino”
Sorrindo, olhavas-me
Mas dormir não era contigo
Peguei em ti com meiguice
Um beijo te dei e outro, e mais
Tanto te beijei repenicando os beijos
Que tu sorrindo, adormeceste

Eras menino.

Como eu queria voltar a ter-te
Nem que fosse um segundo apenas
No meu colo de novo
Beijar-te repenicando os beijos
E tu sorrindo para mim
Agora, bem tento com alento
Mas como “chata” que sou
E muitos beijos te dou
Eu sei, sei que sou
Uma beijoqueira sem cura
Porque gosto de ti.

Maria Antonieta Oliveira
05-01-2020

Bago de Uva


Saboreei o último bago
Das uvas que plantaste
No jardim da minha vida
Amargo e frio
Outrora doce como mel
Das grainhas fiz um colar
Para enfeitar o meu colo
Ardente de desejo
De olhos semicerrados
Passeei a língua
Na pele sedosa
Iludindo-me
Do sabor amargo e frio
Imaginei o teu esperma quente
Escorrendo pelo meu corpo
Não queria magoar-te
Queria apenas sentir-te
Mas não estavas comigo
O bago de uva era somente
Um bago de uva
O último das nossas videiras
Aquele que fora nosso campo
Onde os sonhos proliferaram
E agora, não passava de pasto seco
Sem sonhos, nem videiras.

Onde os bagos de uva findaram.

Maria Antonieta Oliveira
05-01-2020


Acabei a Tarde


Acabei a tarde
Fechei a porta ao dia
Sem deixar que o frio entrasse
Lá fora, a chuva intensa continua a sua marcha
Derramando lágrimas vadias
Saudosas de muitos dias
O mar envolto em neblina
Enche as margens da praia vazia
Arrasa sonhos esquecidos nas marés
Da areia soltam-se imagens
Amantes namorando livres
Crianças fazendo castelos belos
Adultos, idosos, todos olhando
O sol brilhando num céu azul
Mas,
A chuva arrasa o areal
Galga os muros voláteis, soltos
Lágrimas de sonhos derramados
Em campos alheios marcados

Lá fora, a chuva continua
E eu,
Fechei a porta ao dia.

Maria Antonieta Oliveira
05-01-2020

Muro Malvado


Queria saltar esse muro
Onde me lanço e deito
Onde me confesso
Choro e grito
O aperto deste meu peito
Magoado e sofredor
Mas, a altura é muita
E eu sou pequena
Na grandeza do meu ser
Talvez se eu fosse
Mais forte e guerreira
Talvez se eu tivesse
Coragem e voz
Talvez, sim, talvez.

Ah muro malvado
Deixa-me transpor-te
Saltar e viver o outro lado
O lado onde reside o amor
A paz e harmonia
Que eu quero e preciso
Para viver o meu dia
Tão poucos já terei
E a felicidade faz-me falta
Para sorrir ao amanhecer
Num beijo dourado
Trazido no bico do sol
Que entra de mansinho
No canto onde me aninho.

Maria Antonieta Oliveira
05-01-2020