segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Sol Brilhou





A meio da manhã e sol já queimava, nos seus quase 40º C
Ela, tranquilamente entrou naquele carro
Nunca entrara naquele carro
Mas calmamente, entrou, como se sempre o tivesse feito
O rodado percorreu o caminho incerto que os levava
Aqui e ali tropeçaram nas pedras soltas desenraizadas
Finalmente chegaram à mesa que os aguardava na espera de um almoço
Ambiente acolhedor e quase familiar os alimentou

Porquê? Quando? Como? Quem? Onde?
De tudo ou quase tudo falaram nas palavras que se soltaram livres
O tempo galopava no desejo de nunca mais acabar
Caldo verde, vinho tinto, bifanas e café
Repasto de reis em dia de festa
E havia festa. Era um dia especial
Em que o sol habitava aqueles corações sombrios
Momentos jamais vividos em tantos anos passados
Momentos jamais esquecidos nos muitos anos futuros

Voltaram ao tal carro, onde ela nunca entrara
O caminho de volta foi mais curto, ou não
Aproximava-se a despedida, até logo, ou não
E o beijo por dar?
Aquele beijo que ambos desejavam há tanto tempo
Um, dois, três, e mais outro para o caminho
Se pudessem ambos ficavam ali, a conta-los um a um, sem fim
Não podiam, não deviam, mas queriam
Tantos anos depois e tudo estava igual
O tempo não mudou os sentimentos
O tempo, esse traiçoeiro atraia-os de novo, unia-os
E separava-os na força de seguirem o outro caminho
Aquele que o tempo lhes tinha reservado

Haverá um outro dia de sol escaldante
Outro carro circulante
Outro almoço reconfortante
E beijos, mais beijos
Um, dois, três, e mais outro para o caminho.

Maria Antonieta Oliveira
29-06-2015


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mulher Coragem





Se eu fosse coragem, força e fé
Se eu brilhasse como o sol e a lua
Como a estrela cadente
E o fogo incandescente
Se eu fosse límpida como a água do mar
E a areia que se espalha na praia

Ah, se eu fosse coragem!
Não me deixaria cair assim
Ah, se eu fosse coragem!

Mulher forte e com fé
Mulher guerreira nas guerras da vida
Vencedora nas batalhas sem fim
Lutadora nos dias maus do mundo
Nos dias em que o chão lhe foge
E ele tenta não sucumbir
Nos dias de degredo sem medo
Luta pela vida e pela morte
Mulher forte e com fé.

Mas,
Eu sou coragem
Não vou cair
Não vou sucumbir
Não vou perder o caminho
Vou ter fé
Seguir em frente
Confiar no Senhor
E vencer!

Eu sou coragem!

Maria Antonieta Oliveira
22-06-2015

Vens... Ou Vais?





Ouço os teus passos lá fora
Não sei se entras ou se sais
Mas sei que és tu que passas
Sei que és tu que caminhas
Se vens ou vais, não sei

Houve tempo em que te ouvia em silêncio
Naquele silêncio mordaz em que vivias
Nesse tempo, outro tempo, não te via
Sonhava nos sonhos dos tristes
Que eras feliz sem mim, sem nós
Nem passos, nem vozes, nem nada
No escuro da vida passada
Eras um silêncio sem vida própria
Eras passos passados no tempo
Eras sonho sem sonho sem sono
Eras apenas nada

Ouço os teus passos lá fora
Não sei se entras ou se sais
Mas sei que és tu que passas
Se vens ou vais, não sei

Maria Antonieta Oliveira
21-06-2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Não Há Limites






Há um vazio no mundo que me rodeia
Vivo pressionada pela própria vida
Que não me deixa vivê-la como queria

Há um patamar que quero escalar
Há um rio que quero atravessar
Há uma praia de areias cálidas
Onde me sinto, me deito e descanso
Lá, para lá dos limites do existir, existo
Lá, para lá do limite do olhar, vejo
Lá, para lá do limite de caminhar, caminho
Lá, para lá do limite de tudo, sou eu

Vem estar comigo no nosso esconderijo
Entre ameias e castelos
Com Lisboa aos nossos pés
Fomos um num grande amor
Ruas calcadas de pedras velhas
Calçadas estreitinhas com degraus
Mão na mão, adolescência no coração
Caminhámos juntos outros caminhos

Há um vazio no mundo que me rodeia
Mas,
Lá, para lá dos limites de tudo, sou eu.

Maria Antonieta Oliveira
19-06-2015


terça-feira, 16 de junho de 2015

Ombro Amigo





Preciso de um ombro amigo
Para chorar minha dor
Não quero que chores comigo
Só quero que ouças o meu chorar
Que compreendas o meu sofrer
E me saibas aconselhar

Quero chorar
E as lágrimas teimam em não cair
Sinto-me a sufocar
Quero gritar
E a voz não sai da minha garganta
Sinto-me a sufocar
Quero abraçar
Um abraço sentido e amigo
Mas os braços fogem-me sem me apertar
Sinto-me a sufocar
Quero sorrir
Mas o sorriso partiu de mim
Fugiu para parte incerta deixando só
Sinto-me a sufocar

Dá-me a mão e vem comigo
Ouve o meu coração chorando
Vê os meus olhos sofrendo
Dá-me o teu ombro amigo
E escuta meus ais
Deixa-me gritar, rir e chorar
Esbanjar meu sofrimento
No sorriso de um momento
Ser feliz na tua felicidade
Viver a nossa dura realidade
De mão na mão
E um eterno sorriso no coração.
É este o nosso destino
Caminhar no mesmo caminho.

Maria Antonieta Oliveira
16-06-2015





sexta-feira, 12 de junho de 2015

Noite de Sto. António






Em noites de Santo António
Fomos ver os arraiais
As marchas, os manjericos
Os folguedos, as sardinhadas
Alcachofras bem queimadas
Fogueiras bem saltadas
Risos e gargalhadas

Lembras-te, prima?

Dancei com o teu marido
Tinhas em teu ventre escondido
O fruto do vosso amor
O meu, com pé de chumbo
Ficou contigo a um canto
Vendo-nos rodopiar
No bailarico do bairro

Lembras-te prima?

E agora que é feito de nós?
Tu, já partiste deixando-nos sós
Teu marido no hospital, doente
O meu, lutando pelo amanhã diferente
E nesta luta incessante
Estou eu, triste e saudosa
Do ontem que já fugiu

Foi ontem, prima
Lembras-te?

Maria Antonieta Oliveira
12-06-2015



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Morte




A tristeza invade-me
O coração apertado
Chora lágrimas de sangue
Os olhos secos
Da nostalgia dos dias em claro
E das noites sonhadas sem sono
Vertem segredos nunca revelados

Os sons não se calam
Entranham-se nos ouvires e sentires
De vidas passadas
Ruídos estridentes
Destroem-me o coração já partido

O sol e a lua rodopiam
Misturam-se, encontram-se
E os dias e as noites sucedem-se
E os meses e os anos
Num ápice anoitecem

A longa noite dos tempos fenece
O sangue já não chora
O coração parou
E a tristeza acabou!

Maria Antonieta Oliveira
11-06-2015

domingo, 7 de junho de 2015

O Tempo Urge





O dia foge-me
No silêncio dos teus passos
A noite sufoca-me
No silêncio dos pássaros

E o tempo passa
E o caminho percorrido já é longo
E as lembranças e memórias já são muitas
E as saudades de quem já partiu, são tantas que doem

E o tempo urge
No silêncio que falta percorrer

O dia foge-me
A noite sufoca-me
E eu,
Quero viver!

Maria Antonieta Oliveira
07-06-2015

Sonhos





Corre o leito tranquilo
Onde me deito e sonho
Cardumes adoçam meu corpo
Me acompanham na viagem
Adornada de algas me sinto princesa
Princesa das águas onde caminho
Sereia dos mares onde navego, e me perco
Tranquilamente, emerjo do fundo esponjoso
Onde escorrego e caiu
À tona, procuro o sol que me aqueça
Me dê alento de volta à vida
E me sento

Na amalgama de rochas trilhadas p’lo mar
Me sinto de novo perdida
Sem amor e sem vida
Decido acordar
E nesse braço de mar
Onde repousei a sonhar
Me encontro na vida que quero
No espelho límpido das águas
Vejo o teu rosto e o meu
Na imagem reflectida do sonho das ninfas
Um beijo salgado perpetua o momento
Eu e tu no braço do mar

Sorrio por entre os raios do sol doirados
Acordo de sonhos bem fadados.

Maria Antonieta Oliveira
07-06-2015

Aquece-me A Voz




Aquece-me a voz
Afaga-me os dias
Clarifica meus sonhos
E deixa-me fluir

Fluir nos dias e no tempo
Nas manhãs da aurora
No azul do céu amanhecido
Nas ondas e marés do mar salgado
Nos caminhos da paz e do amor
Nos campos de giestas em flor
Nos sons do pipilar das aves
Deixa-me fluir num acordar feliz

Hoje
Amanhã
Aquece-me a voz
Afaga-me os dias
E, os sonhos
E, o tempo
Serão nossos!

Maria Antonieta Oliveira
07-05-2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Reencontro




Olhares trocados
Na profundidade de um tempo
Sentimentos partilhados
Nas palavras por dizer

Um toque
E o corpo estremece
Um olhar
E o coração acelera
E um beijo

Nesse beijo
Se exprime o que o olhar já disse
O que o coração ainda sente

Num momento
Se recorda um passado
Num momento
Se vive!

Maria Antonieta Oliveira
05-06-2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Miúda





Sempre me sinto só
Mesmo quando as nuvens acompanham os caminhos do sol
E a lua segue o rumo das estrelas
Sinto-me só porque me habituei a estar só

Sempre estive só
Sonhei só
Vivi num estar só
Brinquei só
Caminhei só
Amei só
Continuo só
Hoje, ontem e amanhã só

Numa esfera onde circulam gentes
Num passeio longo de namorados
No meu lar replecto de família
Nos caminhos que já percorri
Onde amigos se cruzaram
E amores me amaram
Sempre me senti só

A vida mudou e tenho momentos em que estou acompanhada
Quero e sinto-me acompanhada
Mas estou só
Alguém que devia acompanhar-me não o faz
Alguém a quem acompanho sempre que me quer
Deixa-me só
Não sei porque o fazes, miúda
Lembra-te que os fortes também caem
E os fracos que fingem não o ser
São os que caem primeiro
E eu, sou fraca fortalecida pelo amor
Ao amor me entrego e a ele me dou
Mas preciso também do teu amor
Preciso de não me sentir só
Preciso de me sentir mulher, mãe e avó
Preciso da tua companhia, miúda!

Maria Antonieta Oliveira
03-06-2015


terça-feira, 2 de junho de 2015

A Vida E A Morte De Mãos Dadas



Olho à minha volta e sinto revolta
Pais e filhos, filhos e pais
Cada um com sua dor e sofrimento
Lenços à volta da cabeça
Ocultando a maldade feita
Bonés, chapéus, tudo tapa a vergonha
Vergonha de quê, meu Deus!?
Se foste Vós que os puseste à prova
Um coxeia, outro segue empurrado
Pelo amigo, pelo pai, pela mãe ou pelo filho

Tantos e tantos com a mesma dor
Uns aqui, outros ali e outros, ainda nem sabem onde
Todos sofrem o mesmo sofrer
Todos temem o mesmo temor
E a pergunta repete-se no meu sentir
Porquê? Porquê meu Deus?!
Só Vós, sabeis a resposta
Só Vós, meu Senhor!

Livrai estes seres de tanto sofrimento e dor
E a minha revolta incontida
Deixará em paz minha vida!

Maria Antonieta Oliveira
02-06-2015