domingo, 30 de agosto de 2020

Regras


Não cumpri as regras

A vida é um turbilhão de emoções
Ora se ri…
Ora se chora…
A vida passa sempre ao lado
De quem a vive
Mas passa também ao lado
De quem não a vive
Passa num rodopio
Sem roteiro predefinido

Neste turbilhão de emoções
Vivi, chorei e ri
Senti a vida passar
Sem a conseguir travar
Cumpri e não cumpri as regras
Que me impuseram
Se há regras, errei
Se há pecado, pequei
Mesmo pecando e errando
Não vivi a vida que desejei.

Maria Antonieta Oliveira
30-08-2020

Já Fui Rosa



Já fui rosa cuidada
Amada de manhã ao sol pôr
Regada e beijada com muito amor
Mudei de jardim
Ou mudaram-me a mim
Perdi água da rega
Perdi o sol e seu calor
E mesmo sem eles, o amor vingou
Mas, onde ficou a flor?
Como sobreviveu a rosa?
Sofreu, viveu, tentou, lutou
E
Renasceu
Hoje, sente-se traída
Traída pela própria vida que escolheu
Jamais a terra e a água lhe faltaram
Mas traíram na tirando-lhe a vida

Continuo viva, mas sem vigor
Nem os beijos, a água ou o jardim
Voltam a fazer a rosa florir de mim.

Maria Antonieta Oliveira
30-08-2020

sábado, 22 de agosto de 2020

Emoções



Sentir emoções
É fechar os olhos e deixar fluir
Imaginar o que nunca existiu
Viver esses momentos e ser feliz
Olhar para dentro de nós
Abraçar o desconhecido
E de olhos fechados sentir
Sentir o fluir do amor
Mesmo que não esteja lá
Sentir o beijo por dar
E o leito quente esfriado
Sem ti, sem o teu corpo

De olhos fechados
Deixei fluir
E senti
Emoções.

Maria Antonieta Oliveira
22-08-2020

Quero Ir



Vou partir!
Sim, brevemente partirei
Não sei muito bem para onde, nem quando
Mas vou
Quero ir sozinha, para longe
Onde ninguém saiba quem sou nem de onde venho
Talvez um monte no Alentejo
Uma praia vazia de gente, apenas com areia
E o marulhar da água batendo
Ou uma ilha deserta
Um local que seja só meu e para mim.

Vou partir!
Sim, brevemente partirei!

Maria Antonieta Oliveira
22-08-2020

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Lavadeiras da Vida

(Imagem de um desafio do HP)



Azul… branco…
A água do rio corre calma
Azul e branco o sabão
Que esfrega na roupa
A lavadeira com alma
Corando depois ao sol
Estendida pelos arbustos
Os dedos já sagram
Mas há mais roupa a lavar
Enquanto a outra está pronta a secar
As mulheres curvadas no rio
Cantam matando as mágoas
E a água do rio ensaboada corre
O ritmo inalterável continua
Assim é a vida das lavadeiras.

Na roupa lavando
As tristezas da vida
Esfregando e cantando
Alegram o destino.

Maria Antonieta Oliveira
20-08-2020

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Papel de Parede



Forrei as paredes da casa que seria nossa
O papel da cor do mar banhado de sol
Era um misto de alegria e felicidade
As nuvens pintadas com a luz da lua
Adornavam os recantos do quarto
Que seria o quarto do amor, do nosso amor
Na sala as flores cresciam pela parede nua
Dando vida a um lar por viver
Junto ao piano retirei o papel
O sol e o dó em sintonia, alegravam o dia
Já o ré, o fá e o mi ficaram esquecidos
Nas teclas brancas e pretas por tocar
Olhei o corredor e pensei melhor
Não, não há papel para o decorar
Basta lembrar o amor ali vivido
Aquele outro, aquele outro
O nosso amor proibido.

Maria Antonieta Oliveira
19-08-2020

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Fui Mãe


O vestido largo era azul,
Com bolinhas pequeninas, brancas
A modista fora a avó Chica
Sempre presente a ajudar
Mesmo quando não era necessário
Era assim, nada a fazer
O tempo estava normalmente quente
Era Agosto, em pleno verão
As noites convidavam a passear
E como era sexta-feira, até se podia abusar
Oito horas a trabalhar, jantar e aos primos me fui juntar
Já era uma da manhã de sábado
Tarde, vamos para casa dormir
Mas não dormi, algo me incomodava
Não sabia bem o quê, talvez o jantar
Talvez a digestão parada…
Não, nada disso
Alguém já cansada de estar guardada
Queria ver a luz do verão de Agosto
E às 14 horas e 40 minutas saiu
Saiu do beco escondido onde estava resguardada
Para a luz da vida que lhe estava destinada

Foi ontem!
Há alguns anos!

Maria Antonieta Oliveira
17-08-2020



domingo, 16 de agosto de 2020

Gente Sofrida



Até na tristeza há alegria
Nas lágrimas correntes
Roçando os corpos queimados
Torturados e esfomeados
Pés descalços enlameados
Corpos nus de pureza
Rostos crispados sem beleza
Apenas os olhos brilham
Brilho de esperança e de medo
Brilho de fome e degredo
São velhos, são crianças
São gente maltratada
Gente sem leito para dormir
Gente com canto no peito
E grito na voz para cantar
São gente que disfarça a vida
E vive cantando a tristeza.

Maria Antonieta Oliveira
16-08-2020

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Estou Só



Família?!
Família, o que é?
Família, o que foi?
Sempre foi pequena a família onde nasci
Continuou pequena a que construí
Mas sempre tentei uni-la
Eram festas de Natal
Eram festas de aniversários
Eram festas, apenas porque sim
E assim, a família pequena existia
E agora?
Quem convido?
Quem aparece?
Ninguém!
A maioria já partiu
A minoria quem é?

Estou só, no fim
Desta já longa caminhada.

Maria Antonieta Oliveira
11-08-2020

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Saudades da Tua Boca


Sinto saudades do sabor da tua boa
Da tua língua louca
Dos rodeios e devaneios
Em que ela e a minha deliravam
Saudades de ti, amor
Do calor da tua mão pousada
Na minha perna tremente
Naquele verão quente de calças alvas

Soube-me ao café que beberamos
Na esplanada apenas nós
Eu e tu mais ninguém
Os olhares dos passantes
Não nos imaginavam amantes
Mas eternos namorados
Pois nossos olhares cruzados
Desvendavam segredos passados.

Ai amor, quanta saudade da tua boca!

Maria Antonieta Oliveira
10-08-2020

Sentires



Não consegui cheirar o teu cheiro
Nem sentir o teu abraço molhado
Do teu corpo húmido de paixão
Nem as tuas mãos escorregadias de tesão
Apertando as minhas que te aguardam
Mas senti o nosso afago, tão nosso
Nesse abraço imaginado de ilusão.

Maria Antonieta Oliveira
10-08-2020

domingo, 9 de agosto de 2020

Tejo do Meu Encanto


Em Santa Luzia via o rio
O mesmo que corria e eu via
Nos Paços do Conselho
Era o Tejo que me piscava o olho
O Tejo com cheiro a mar
Que me levou e trouxe no seu navegar
À Trafaria ou a Cacilhas,
Até mesmo ao Barreiro
Também do Castelo te via
E de lá para ti sorria
Nem São Jorge me fazia temer
Eu tremia, mas de amor e paixão
Pelos olhos lindos que via.

No Tejo baloucei meu canto
Ao vir do Alentejo para a cidade
Esse canto que não canto
Que encanta na eternidade.

Maria Antonieta Oliveira
09-08-2020

sábado, 8 de agosto de 2020

(D) Esperança


Sempre vivi na (d) esperança
Será que voltas?
E não voltavas!
E se perco?
E perdia. E agora?
Como faço?
Como digo?
O que me vai acontecer?

E as histórias ficavam por contar
E os sonhos ficavam por desvendar.

E agora, como quem vou desabafar?!
Quem me vai ouvir sem reclamar?!
Quem me vai ouvir sem me condenar?!

E as histórias ficam por contar
E os sonhos ficam por desvendar.

Maria Antonieta Oliveira
08-08-2020

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Abraço Uno


Há dias em que acordas e sorris
Há outros, em que o céu nublado te acorda
E tu, simplesmente, choras
Há dias em que o sol parece triste
E em teu pensamento nada existe
Há dias bons e outros nem tanto
Porque até a rosa perdeu o encanto
Há dias em que o nervoso te consome
As palavras não saem de dentro
Tudo à tua volta é lamento
Nem sorrisos nem lágrimas
Apenas a espera te desespera
Mas há dias em que a chuva não molha
Nem o frio por mais frio te arrefece
Porque há dias em que tudo é belo
Simples e maravilhoso
Porque há dias em que as energias se unem
E Deus, os anjos e Nossa Senhora
Nos abraçam abraçando-se, num abraço uno.

Maria Antonieta Oliveira
04-08-2020

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Já Esqueci




Já esqueci o tempo
Em que o verão era quente
Pelo calor da tua mão
E o inverno nunca arrefecia
Pois de novo a tua mão me aquecia
Nem outono ou primavera nos afastava
E o tempo matreiro passava.

Já esqueci o tempo
Em que o tempo me fez feliz
E quando?
Quando foi esse tempo?
Já esqueci!

Maria Antonieta Oliveira
03-08-2020

domingo, 2 de agosto de 2020

Vida Desiludida


Desilusões da vida
São tantas, tantas
Acredito demais
Confio em todos
Espero muito
E depois?!
Depois, nada.

Toda a minha vida foi e é uma desilusão
Talvez porque exijo o que não devo
Ou talvez porque sonho muito
Sem adormecer
Tantos talvez, numa só desilusão
A minha vida.

Maria Antonieta Oliveira
02-08-2020

Já Não És Menino



Já não és o menino a quem dei colo
Não, já não és
O menino que me prendia as noites
Transformando-as em dias
O menino que adormeci em meus braços
Em dias e noites de rebeldia
Aquele a quem contei histórias inventadas
Na espera de uma refeição bem sucedida
Já não és dócil no abraço da chegada
Nem no beijo da despedida
Não, já não és.

Os anos passaram e hoje, o menino
É um adolescente em princípio de caminho
Quer voar e caminhar sozinho
Mas, será sempre o meu menino.

Maria Antonieta Oliveira
02-08-2020